– Que negócio? Por que negócio hei-de eu vigiar? Eu não a entendo.
– Pois não tem visto deveras o que por aí vai?
– Eu não; você bem sabe que eu fecho a casa com as costas e por isso…
– Então aquelas visitas do filho do inglês…
– Adeus, adeus! Cuidei que era outra coisa! – redarguiu Manuel Quintino, encolhendo os ombros. – Aí vem você também. Pobre rapaz! Lá por ter suas verduras, já não pode entrar em uma casa que não digam logo… Que mundo este!…
– Ai, e julga que não é assim? Então está bom. Pois ande lá, ande…
– Mas na verdade você imaginou? Ó mulher, não viu como foi e por que foi que aquele pobre moço veio aqui a primeira vez?
– Eu, não, senhor. Pois olhe que tenho pensado bem nisso…
– Pois não se lembra daquela tarde em que eu tardei e que Cecília…
– Se me faz favor, não foi essa a primeira vez.
– Foi, sim.
– Não foi, não, senhor.
– Ó mulher! Que demónio de cabeça a sua! Pois, na verdade, não se lembra?…
– Eu só me lembro de que, muito tempo antes desse dia, veio aqui uma tarde aquele senhor; perguntou pela menina, disse que lhe queria falar; eu mandei-o para a sala; a menina foi ter com ele; ao vê-lo fez-se vermelha, como uma romã, e mandou-me sair; e eu ouvi-os estar a conversar perto de meia hora…
– Você está doida, mulher?
– Não estou, não, senhor.
– Quando foi isso?
– Logo depois do Entrudo. Lembra-me bem de que foi três ou quatro dias depois daquele em que deixou ir a menina com as do Matos; coisa que eu, no seu lugar, não fazia, mas…
– Mas Cecília não me falou nunca nessa visita!
– Isso sei eu.
– E você?…
– A menina recomendou-me que não lhe dissesse nada, porque era uma surpresa que lhe queriam fazer… Mas, por mais que eu lhe perguntasse o que era, nada de novo.
Manuel Quintino principiava a sentir-se inquieto.