– Nem por isso, nem por isso. Descuidou-se hoje, deixando-me varrer todas as ostras do mercado, sem me reservar nenhuma! Cheguei a acreditar que Mr. Morlays tinha razão; o mundo tem provações! Eh! eh!…
– Ria, ria. Eu confesso que me seria difícil imaginar outro mundo pior.
– Oh! Para isso basta suprimir as ostras da criação! Perde logo cinquenta por cento do valor que tem. Eh! eh! eh! Uma comida leve, que não compromete o estômago! Antes o predispõe a mais substancial refeição.
Não acompanharemos, através das diversas transições, o longo e substancioso diálogo mantido entre os três ingleses.
As questões mais graves que agitavam então as inteligências e pejavam de papéis os gabinetes diplomáticos da Europa, o destino das nações, a futura sorte dos povos, tudo, naquela manhã, foi tratado por eles e decidido em termos categóricos e com tanta consciência de infalibilidade, como só a dá e permite o foro de súbdito inglês, cujos privilégios, debaixo deste ponto de vista, parece não terem limites. Monarcas, generais, ministros, diplomatas, publicistas, todos passaram em comprida procissão aos olhos deste triunvirato, que os julgou e sentenciou com a impavidez e precisão próprias do espírito britânico.
A Guerra da Crimeia historiaram-na eles a seu modo: com grande exaltação da Inglaterra, e acerba crítica da França, a cujo exército nada mais conheciam senão uma fanfarronice, às vezes feliz.
Escusado será dizer que tudo isto era condimentado com reflexões lúgubres de Mr. Morlays e com ditos joviais de Mr. Brains. O primeiro, para deprimir a França, inventava exemplos de crueldade, e quase de canibalismo, cometidos pelo soldado francês; o segundo, com o mesmo patriótico fim, contava anedotas cómicas, nas quais se demonstrava o quixotismo dos aliados da velha Inglaterra.