Manuel Quintino ergueu as mãos para Jenny.
– Espere! espere! E se tem poder para me tirar do coração isto, que me esmaga, faça-o, faça-o! Por muito que os outros sofram, quem sofre aqui mais sou eu!
Havia na voz do pobre pai a comoção mais sincera.
Jenny parou a escutá-lo.
Manuel Quintino estendeu para ela a carta de Carlos, que trouxera consigo.
– Quem escreveu esta carta a minha filha?
Jenny ficou enleada à vista da carta; olhou para Carlos, cuja fisionomia lhe disse tudo.
Cecília ergueu também a cabeça com espanto.
Em Manuel Quintino, que notou a perturbação de Jenny, redobrou com isto a ansiedade, e, sem atender a que ia sacrificar Cecília, insistiu imprudentemente.
– Quem escreveu esta carta a minha filha? Esta carta recebida ainda há poucas horas? Ela aí está ainda como me chegou às mãos. Abram-na, leiam-na, e, se o que contiver não justificar as minhas suspeitas… se…
E Manuel Quintino, ao dizer isto, ia já a abrir a carta, quando a voz de Mr. Richard o deteve.
– Não é preciso, essa carta é minha.
Eram as primeiras palavras ditas por o velho inglês, desde o princípio da cena, à qual assistira até então imóvel e silencioso. Mr. Richard Whitestone era homem de rápida percepção e de resoluções não mais demoradas.
Entrando-lhe a inteligência em uma corrente de pensamentos, em poucos instantes lhe atingia o fim e, acto contínuo, formulava a si mesmo um plano de procedimento, que logo punha em prática. Tinha já compreendido tudo; a confusão de Carlos e o seu grau de culpabilidade, os fundamentos da acusação de Manuel Quintino e a generosa e nobre intervenção de Jenny.