Uma Família Inglesa - Cap. 35: XXXVI - A defesa da irmã Pág. 402 / 432

isso? O mundo não veria neste acto, que pode ser… que creio mesmo que seja muito justo, mas que é preciso confessar também que não é natural, não veria nesse acto a reparação de ofensa maior?

Jenny sentiu-se alentada ao ver a nova face que o pai dava à discussão.

– E a partida repentina e inesperada de Charles, depois dos factos que sucederam, não dará lugar a vozes menos favoráveis ainda para ela, para ele e… para nós todos?

Mr. Whitestone não respondeu.

– Eu conheço pouco o mundo, é verdade – prosseguiu a filha –; mas parece-me que, em todo o caso, ele falará; o que se tem a fazer é dar às nossas acções a feição mais natural, para que menos curiosidade lhe excitem. Conduzamo-las de modo a deixar-lhe entrever os motivos que nos convier que ele suponha; mas sem mostrarmos o propósito de revelar-lhos, que não desconfie da intenção e procure então os verdadeiros.

Mr. Richard olhava para a filha com um sorriso, já muito desanuviado.

– Bravo! Que maquiavelismo! Não te sabia tão diplomata. Vamos à aplicação ao caso presente.

Jenny sorria também, mas de íntima satisfação, porque se pressentia vitoriosa.

– Trata-se de diminuir, pouco a pouco, a estranheza do acto que o faz hesitar; preparar as opiniões para aceitá-lo como natural.

– E como? Que queres que eu faça?

– O que lhe ditar o coração. Não é a mim que compete aconselhá-lo.

Mr. Whitestone baixou a cabeça, com ar de reflexão.

Jenny principiou a dizer, como se falasse para si própria, mas de maneira que fosse escutada por o pai.

– O mundo é assim. Dá-se-lhe a verdadeira explicação dos factos, raras vezes a acredita. Forja-se outra, às vezes menos natural e plausível, quase sempre a prefere. Principalmente se a verdadeira é generosa e nobre, e a falsa interesseira e mesquinha.





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