A aliança de Charles com a filha de Manuel Quintino, tendo por explicação somente o afecto dos dois, seria estranha e incompreensível; mas se Manuel Quintino, em vez de ser guarda-livros, fosse um sócio da casa…
Mr. Richard, ouvindo estas palavras, desviou para a filha o olhar. Viu-a distraída, examinando, com aparências de atenção, um pesa-papéis de cristal.
Mr. Richard teve uma lembrança.
Aproximou-se da secretária, e, tomando uma folha de papel, escreveu nela algumas linhas.
Jenny sorria, como se estivesse de longe lendo tudo o que o pai se pusera a escrever.
No fim o inglês releu com atenção o que havia escrito; dobrou cuidadosamente o papel e, entregando-o à filha, disse com rapidez, como se receasse que a resolução que abraçara lhe fugisse ainda:
– Aí tens. Entrega isso a Manuel Quintino. É uma memória dos teus vinte e dois anos.
Jenny, que astuciosamente deixara ao pai o prazer e a glória da boa ideia, cuja insinuação viera dela, suspeitou logo qual a natureza do escrito e disse com efusão:
– Agora sim! Torno a reconhecer o seu coração generoso.
– Então já sabes o que isso contém?
– Adivinho-o sem o ler. Atendendo aos antigos serviços prestados por Manuel Quintino à casa Whitestone, meu pai associa-o de hoje em diante ao negócio e à sua firma. Não é verdade?
– Quase por formais palavras – respondeu Mr. Richard, passando amigavelmente a mão por as faces da filha.
– Que mais ordena, miss Jenny? – perguntou jovialmente o inglês.
– Peço mais uma coisa.
– Diz.
– Peço para não fazer desde já uso deste papel.
– Então?
– Esse facto, que serve para preparar a opinião pública para o outro… não é verdade?
– Eu não prometi ainda…
– Este facto – continuou Jenny, fingindo que não ouvia resposta
– causaria ainda estranheza, se não fosse preparado também com antecedências.