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Capítulo 4: IV - Um anjo familiar

Página 49
Richard. – Dick! pois assim queres matar-me? assim queres ver-me morrer? Não tens pena de mim? Dick! Fui eu quem te trouxe ao peito, eu… Olha que sou a pobre Kate Simpleton. Dick! Dick! Livra-me destes demónios, que me querem afogar. Que mal te faço eu para me deixares morrer? Larguem-me!

E por um esforço inesperado daqueles braços emaciados e fracos, soltou os punhos das mãos que os seguravam e, levando-os às faces, feria-se no rosto encarquilhado e contraído.

Nisto entrou Jenny no quarto.

A velha apoderara-se de uma faca, que por descuido lhe tinham deixado ao alcance da mão.

Jenny fez sinal às criadas para que se afastassem do leito e aproximou-se dele.

– Cuidado, miss Jenny! – disse a despenseira, gorda, ruiva e sardenta matrona inglesa, que suava ainda com o esforço que sustentara.

– Cautela, menina! – repetiu a outra criada, musculosa portuguesa dos arredores da Maia. – Olhe que ela é perigosa nestas ocasiões.

Jenny não as atendeu.

Chegou-se ao leito da velha demente e pousou-lhe nos pulsos as mãos, delicadas e débeis.

A velha estremeceu e fitou nela o olhar espantado e ameaçador.

– Bons dias, Kate – disse-lhe afavelmente Jenny, sem que no rosto, risonho e sereno, se desenhasse a menor sombra de receio.

Kate ficou a olhá-la por algum tempo daquela maneira.

– Então que ruindade é esta hoje, Kate? Nem me conheces?

A velha principiou a sossegar; conservava-se porém ainda muda, e não desviava de Jenny os olhos espantados.

– Não me conheces, ama? – continuou esta, em tom mais afectuoso. – Kate, então? Já nem queres conhecer a Jenny?

O rosto da octogenária iluminou-se com um sorriso estranho, selvagem quase; a cabeça principiou a agitar-se-lhe em movimento afirmativo, que, pouco a pouco, aumentou de velocidade, até à rapidez de certos desordenados gestos próprios daqueles estados de espírito; a mão soltou a faca que ainda segurava.

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pág. 49 (Capítulo 4)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 49

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432