– Mas…
– Escute; se quiser tratar de sua irmã, traga-a para aí.
– Ó minha senhora…
– Prepare-lhe aquele outro quarto do mirante.
– Seja por amor de Deus…
– Olhe, Luísa – apressou-se a interrompê-la Jenny –, vá ver se me apronta aqueles punhos que eu lhe disse, vá.
– Vou já fazê-lo, minha querida senhora – disse a rapariga, a quem palpitava o coração alvoroçado de contentamento.
Nisto ouviram-se gritos agudos, desentoados, pungentes, que fizeram parar Jenny e assombraram-lhe a fronte serena de uma nuvem de tristeza. Vinham do andar superior aqueles gritos.
O criado, vendo-a parada a escutá-los, disse meio compungido, meio a sorrir:
– É a Sr.a Catarina; tem estado desde ontem tão impaciente!
– Pobre Kate! – murmurou Jenny, suspirando – e subiu com ligeireza as escadas que conduziam ao mirante.
Catarina ou Kate, segundo a familiar abreviatura inglesa, era uma criada octogenária, que tinha sido ama de Mr. Richard, e jazia agora, paraplégica e demente, num dos quartos da casa, vigiada com carinho pela família Whitestone e com impaciência, a custo reprimida, por os criados e criadas. Em certos dias os acessos da velha eram furiosos e as suas imprecações, em língua mestiça de português e inglês, e os seus gritos horripilantes punham em alvoroço toda a casa. Em momentos assim era difícil apaziguá-la; tão violentas gesticulações fazia, que poucos eram os braços para impedir-lhe que se maltratasse.
– Cães! – bradava ela agora, naquele estranho imbroglio linguístico, impossível de reproduzir aqui e que fazia rir as criadas que a seguravam. – Cães! Têm-me aqui presa! Querem matar-me à fome! à fome! Mas deixem estar que em vindo Dick… Ele há-de vir, há-de vir! Larguem-me! Dick! Dick! – Era o nome familiar que ela dava ainda a Mr.