Uma Família Inglesa - Cap. 5: V - Uma manhã de Mr. Richard Pág. 59 / 432

É mau costume.

E saiu da sala para o gabinete.

Jenny acompanhou-o.

– E demais nem tanto custa – dizia ele ainda, pelo caminho.

Enfiando o sobrecasaco e aceitando das mãos de Jenny o chapéu e a bengala, continuou no mesmo tom:

– Dá lugar a que se diga… a que se repare…

Calçando as luvas de pelica cor de cana, por uma esquisitice patriótica mandadas vir de Inglaterra directamente, resmoneou ainda:

– Não sei que custe muito estar alguns minutos no escritório. E, passado um momento:

– É feio, é feio.

Parecia, enfim, disposto a sair, mas Jenny, costumada a observá-lo, descobria-lhe certa hesitação, como se se travasse nele uma luta entre duas resoluções encontradas.

– Até logo, Jenny – dizia Mr. Richard, mas sem acabar de partir.

– Não sei o que me esquece! – murmurou depois com manifesta perplexidade.

Jenny correu os olhos pelo quarto.

– O lenço? – perguntou, oferecendo-lhe um que vira sobre o toucador.

– Ah! o lenço, sim… o lenço…

Era evidente que não estava satisfeito ainda.

– Agora… não me falta nada; adeus.

Jenny julgou que desta vez sempre iria.

– Ah! sim – continuava ele, parando novamente.

Jenny fitou-o com olhar interrogativo.

– Não sei o que… Ah!… Então… então Carlos… não se levanta esta manhã?

– Se quer que o chame?

– Não, não… É que…

E depois, interrompendo-se:

– Não é nada.

– Deseja que lhe dê algumas ordens?

– Não… mas… Enfim, o que é tem tempo.

– Mas diga; Charles não deve tardar a erguer-se…

– É que…

E Mr. Richard, com certo modo embaraçado, aproximou-se da secretária, abriu-a e tirou de lá um magnífico relógio de corrente, de construção inglesa, objecto que expressamente havia encomendado de Londres para presentear o filho no dia dos anos dele.

A ausência de Carlos, na véspera, impedira-lhe realizar o afectuoso intento.





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