Jenny ficou ainda por muito tempo imóvel junto da porta, onde se despedira do pai. O olhar corria-lhe pelos objectos que a rodeavam; o pensamento porém não acompanhava o olhar.
Aquelas feições, em que se podia reconhecer, misteriosamente combinada à candura de uma criança, não sei que severidade, toda maternal, tomavam agora um ar de preocupação e melancolia, uma dessas sombras que as ideias graves parece projectarem no semblante de quem não aprendeu a dissimulá-las.
Jenny pressentia haver chegado uma nova ocasião de ser necessário intervir com a sua influência pacificadora e angélica, para dissipar a nuvem, embora ténue, que assomava no horizonte doméstico.
Exercera já de um dos lados essa influência, conseguira adoçar as disposições acerbas de Mr. Richard para com o filho; faltava-lhe porém o resto, estava ainda incompleta a obra; era preciso ensaiá-la sobre Carlos também.
E Jenny, que bem conhecia o irmão, tinha fé em que o não tentaria debalde.
Rompia por isso um raio de confiança por entre as sombras daquela preocupação.
Foi neste estado de espírito que chamou André, para que fosse acordar o irmão.
André era o mais antigo criado da casa, espécie de mordomo jubilado, que servia Mr. Whitestone desde o seu estabelecimento no Porto e trouxera já ao colo os dois filhos do inglês.
– Vá – disse Jenny – diga a Charles que eu o espero na biblioteca.
Carlos dormia tranquilamente, quando o velho André lhe entrou no quarto. A respiração profunda, pausada e regular denunciava um sono livre de pesadelos e de sonhos importunos.
O criado, depois de escutar algum tempo aquele som, único que, como do bater da pêndula vizinha, se percebia no quarto, caminhou com precaução, bem escusada a quem vinha para despertar, até uma das janelas, que entreabriu.