– A essa, decerto que nada. E depois?
– Ela respondeu-me: – «Bem mais fatigada disto tudo do que esperava, vindo aqui, Sr. Carlos».
– Como disseste?… Sr. Carlos?!
– É verdade, «Sr. Carlos». Sabia o meu nome a misteriosa incógnita; sabia o meu nome! Está de ver que aumentou a minha curiosidade. Continuando a conversar, vim a saber dela que tinha vindo ali acompanhada de outros dominós femininos, cujo humor mais galhofeiro contrastava com aquela melancólica seriedade. Ficámos a conversar um com o outro, amigavelmente, inocentemente, assim como eu converso agora contigo. E… queres que te diga? Havia até alguma coisa do teu falar, maneiras de dizer tuas, na conversa daquela rapariga; e era isto talvez o que me impunha certo acatamento para com ela, de que não podia livrar-me. Não imaginas a graça, o bom senso, a viveza que revelou em todo aquele diálogo comigo. Mostrou-se muito informada a meu respeito e até a respeito da nossa família; houve um momento em que deu mostras de querer falar de ti; eu porém evitei a conversa…
– Porquê?! – perguntou Jenny, fingindo-se ofendida.
– Porque… – balbuciou Carlos embaraçado, e depois, com mais resolução, continuou: – Digo-te a verdade, Jenny; respeito-te muito; tenho pelo teu nome uma veneração muito grande, para que me fosse agradável ouvi-lo pronunciar naqueles lugares, e pronunciado de mais por… não obstante o favorável conceito que continuo a fazer da desconhecida… mas… por lábios que… não sei ainda… que não tenho a certeza se serão dignos disso. Passadas duas horas talvez neste inofensivo conversar, chegaram, já fartos de alvorotar o salão, alguns dos rapazes que me tinham acompanhado. Foi-me pouco agradável, confesso-o, a presença dos meus amigos e sobretudo desagradabilíssimos os galanteadores conceitos que dirigiram à minha interlocutora e os gracejos com que a respeito dela me mimosearam.