Respirando, havia mais de vinte anos, a atmosfera perfumada do nosso clima meridional, e bebendo, em todo este tempo, da própria fonte o predilecto das mesas britânicas, o genuíno Port wine – esse néctar, cujo aroma, ainda mais que os da nossa atmosfera, é grato às pituitárias inglesas, Mr. Richard Whitestone não conseguira, ou melhor, estas influências, com todos os outros feiticeiros atractivos da nossa terra, ainda não haviam conseguido de Mr. Richard Whitestone dois importantes resultados: – a adopção dos hábitos de vida peninsular, contra os quais antes reagia sempre com a inteira inflexibilidade de suas fibras britânicas, e o respeito à gramática portuguesa, que, em todas as quatro partes, maltratava com uma irreverência, com um desplante de bradar aos céus e de desafiar os rigores da férula mais indulgente.
Não desmentia Mr. Richard a asserção do autor das Lendas e Narrativas, quando afirma que sempre que um inglês, em casos desesperados, recorre a algum idioma estranho, nunca o faz, sem o torcer, estafar, e mutilar com toda a barbaridade de um verdadeiro Kimhri.
De facto, as cinzas de Lobato e de Madureira deviam agitar-se na sepultura sempre que Mr. Whitestone falava, porque as regras mais triviais de regência e de concordância eram por ele atropeladas com uma frieza de ânimo, com uma fleuma, com uma impassibilidade, somente comparáveis às de um membro do Jockey-Club, ao passar com um cavalo por cima do corpo de algum transeunte inofensivo ou competidor derrubado na arena.