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Capítulo 8: VIII - Na praça

Página 84

Há ainda outra classe, também inquieta, apressada, incansável, porém, muito longe das disposições para a reverência desta última em que falámos. Há nas suas cortesias rasgadas alguma coisa de artificial, que não ilude ninguém, e às vezes a menos cerimoniática familiaridade substitui até essas aparências de respeito. São espantosos de tenacidade a perseguirem em certos casos o comerciante, que em vão tenta fugir-lhes; passam-lhe da esquerda para a direita, da direita para a esquerda; atravessam-se-lhe no caminho; entram com ele nos portais, sobem com ele as escadas, invadem-lhe o ádito dos escritórios, transpõem a barreira dos mostradores, encostam-se sem cerimónia às escrivaninhas, batem-lhe amigavelmente nos ombros, colocam-lhe diante dos olhos garrafas, vidros, maços de fazenda, tabelas de preços, amostras de todos os géneros comerciáveis, de que andam constantemente munidos, e a custo se resolvem a soltar das mãos a vítima que chegaram a atacar. – São estes os corretores e agentes de casas estrangeiras.

A classe dos primeiros-guarda-livros é a porção aristocrática desta bureaucracia ou escritoriocracia comercial. Mostra-se principalmente à janela dos primeiros andares, onde vem, de vez em quando, descansar das fadigas de uma escrituração. De ordinário, conservam a pena entre os dedos, como para significar que é momentânea a pausa – o que nem sempre sucede. Mais necessários, e por isso mais apreciados e atendidos, gozam já de certas franquias e privilégios entre os da sua classe. É-lhes concedido falarem da janela para a rua com algum colega ou amigo que passa; a alguns até se permitem fumar na varanda um charuto, e ausentarem-se algum tempo do escritório sem prévia requisição; na rua, saúdam mais desassombrados os patrões e são menos distraidamente correspondidos por estes.

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pág. 84 (Capítulo 8)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 84

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432