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Capítulo 8: VIII - Na praça

Página 83
a passo rápido, rapazes pela maior parte com papéis, sacas ou amostras na mão; saem de um portal para entrar em outro; descem a calçada do Terreiro em direcção à Alfândega, ao cais ou a bordo de algum navio mercante; consultam os indivíduos dos grupos que já mencionámos, ou aguardam pacientes que eles os descubram e interroguem; dirigem-se-lhes então, tirando o chapéu – atenção nem sempre retribuída –; são estes os segundos-caixeiros, os chamados «de fora», os praticantes de escritório, os cobradores, e ainda os despachantes; aqueles, enfim, sobre quem mais pesada se exerce a carga da vida do comércio e que menos proventos auferem dela. Distinguem-se pelo grau de velocidade dos passos; a dos despachantes chega a ser incómoda de ver-se.

É digna de nota também a posição que tomam mais ordinariamente os dois interlocutores dos curtos diálogos, que a cada momento se travam no meio da rua, entre os representantes das diversas hierarquias sociais que se dizem – caixeiro e patrão. O caixeiro está perfilado, com a mão na aba do chapéu e os olhos fitos nos lábios do negociante; esse responde-lhe, olhando para o lado e, às vezes, sorrindo até para um colega que de longe fala por acenos – distracção perigosa para a clareza da ordem dada, mas cujas consequências são atribuídas depois a quem a recebeu; os patrões mais acessíveis levam a sua bondade a ponto de puxarem por o botão do casaco, ou de desapertarem o do colete do subordinado, enquanto lhe dão instruções. Quando o caixeiro expõe o resultado da comissão que executou, é-lhe permitido o accionado, mormente se, na execução dela, houver a vencer a renitência de algum devedor emérito, circunstância na qual pode até tentar um epigrama, com a certeza de que agradará. Porém, quando são mais modestos os ares do caixeiro e mais impertinentes os do patrão, é quando o segundo está sendo convencido por o outro de um erro que repugna ao seu amor-próprio confessar.

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pág. 83 (Capítulo 8)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 83

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432