a passo rápido, rapazes pela maior parte com papéis, sacas ou amostras na mão; saem de um portal para entrar em outro; descem a calçada do Terreiro em direcção à Alfândega, ao cais ou a bordo de algum navio mercante; consultam os indivíduos dos grupos que já mencionámos, ou aguardam pacientes que eles os descubram e interroguem; dirigem-se-lhes então, tirando o chapéu – atenção nem sempre retribuída –; são estes os segundos-caixeiros, os chamados «de fora», os praticantes de escritório, os cobradores, e ainda os despachantes; aqueles, enfim, sobre quem mais pesada se exerce a carga da vida do comércio e que menos proventos auferem dela. Distinguem-se pelo grau de velocidade dos passos; a dos despachantes chega a ser incómoda de ver-se.
É digna de nota também a posição que tomam mais ordinariamente os dois interlocutores dos curtos diálogos, que a cada momento se travam no meio da rua, entre os representantes das diversas hierarquias sociais que se dizem – caixeiro e patrão. O caixeiro está perfilado, com a mão na aba do chapéu e os olhos fitos nos lábios do negociante; esse responde-lhe, olhando para o lado e, às vezes, sorrindo até para um colega que de longe fala por acenos – distracção perigosa para a clareza da ordem dada, mas cujas consequências são atribuídas depois a quem a recebeu; os patrões mais acessíveis levam a sua bondade a ponto de puxarem por o botão do casaco, ou de desapertarem o do colete do subordinado, enquanto lhe dão instruções. Quando o caixeiro expõe o resultado da comissão que executou, é-lhe permitido o accionado, mormente se, na execução dela, houver a vencer a renitência de algum devedor emérito, circunstância na qual pode até tentar um epigrama, com a certeza de que agradará. Porém, quando são mais modestos os ares do caixeiro e mais impertinentes os do patrão, é quando o segundo está sendo convencido por o outro de um erro que repugna ao seu amor-próprio confessar.