Acrescente-se agora a progénie ociosa dos grandes capitalistas – comerciantes honorários, cuja vida comercial se reduz, como a de Carlos, a passear na Praça até às quatro horas da tarde; o brasileiro retirado, distraindo-se a presenciar, como espectador, o labutar do negócio, à maneira do marítimo velho que se senta à beira-mar a olhar para as ondas, de que vive arredado já; acrescente-se ainda o empregado da alfândega, fumando o cigarro, nas frequentes entreabertas do descanso de suas laboriosas manhãs; os carrejões em disponibilidade, estacionados a cada esquina; os moços de escritório, encostados às ombreiras das portas; os meninos dos directores das companhias, confiados à vigilância de algum empregado subalterno; isto tudo composto de ingleses ruivos, de alemães loiros, de brasileiros escuros, de portugueses de todas as cores, e ter-se-á imaginado o aspecto da Praça comercial do Porto, à hora em que Carlos Whitestone a atravessou.
Carlos passava pelos diferentes grupos ali reunidos, como por entre gente que toda lhe era igualmente familiar.
Como sempre, e como em toda a parte, não se constrangia ali também.
O génio que tinha não lhe consentia etiquetas; a sua posição social não deixava que ninguém lhe estranhasse as familiaridades.
Enfiava o braço no de um dos mais sisudos comerciantes, a quem tratava pelo nome do baptismo; de repente, deixava-o, para acender o charuto no cigarro de um segundo-caixeiro de escritório, que o estava saboreando às ocultas, e ali mesmo pactuava com este qualquer partida de caça. Aproximava-se do grupo de capitalistas e barões, que discutiam acaloradamente o relatório de uma companhia, e cedo, com suas reflexões e comentários, fazia degenerar a conversa para assunto mais frívolo e jovial;