Uma Família Inglesa - Cap. 8: VIII - Na praça Pág. 89 / 432

– Mas o fim da empresa?… o fim? – bradava o outro.

– O fim? Um grande fim… uma nova via de tráfego comercial entre a cidade alta e a baixa.

– Como? Alguma rua…

– Não, senhor; aproveita-se uma riqueza, ainda inexplorada, que há no seio da cidade.

Um enxame de ideias extravagantes esvoaçaram na imaginação do accionista, que já com ardente curiosidade perguntou:

– Mas… que é?… como?

– Nada menos do que tornar navegável o rio da Vila.

O accionista dissidente olhou ainda alguns instantes para Carlos; mas cedo depois voltou-lhe as costas desapontado e procurou o director que estivera interpelando; este, porém, aproveitara o ensejo e desaparecera, esquivando-se a resolver o difícil problema que o outro lhe apontara ao peito. – Quem era o governo?

O leitor que é do Porto permita-me que eu explique aos que o não são que este nome pomposo de rio da Vila é dado a um pequeno riacho de águas menos limpas que se despenha por uns sítios escusos e não menos asseados do que elas, até desaguar furtivamente, e como envergonhado, no Douro.

O primeiro indivíduo de quem, depois deste, Carlos se avizinhou, era uma potência comercial, que ouvia amavelmente o pedido que lhe fazia um colega para ele pedir a outro, para este pedir a terceiro e este terceiro pedir ao ministro para o ministro empregar na alfândega o filho do cunhado do primeiro que pedia. Esta complicação enredada de pedidos – da qual inevitavelmente se havia de ressentir o período, como ressentiu – parecia claríssima para o que estava sendo exorado, pois, sem pedir explicações, e como homem que logo à primeira vista entrou no âmago da questão, não fazia senão prometer aplicar todo o seu valimento e ser até importuno para servir o amigo.

Carlos chegou no meio dessas promessas cordialíssimas.





Os capítulos deste livro