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Capítulo 8: VIII - Na praça

Página 88
– Ora que é cisma! Mas quem é o governo? Eu não sei quem é o governo! Uns valdevinos, que hoje são tudo e amanhã são nada… Faz-se o contrato com uns e amanhã respondem por ele caras novas. Não me entendo com isso. Muito bonitas falas, sim, senhores; mas como não respondem por o que é seu… E os nossos capitais…

Estes capitais eram cem mil réis por junto.

O director pedia resignação a Deus, para não romper com o obstinado.

Carlos representou aqui de enviado celeste. Tomou o braço do accionista dissidente e, sem lhe atender aos esforços, afastou-o para o passeio, dizendo-lhe a meia voz:

– O senhor já sabe do que se trata hoje na Praça? Vai organizar-se uma companhia monstro.

– Pois sim, sim; mas deixe-me, que tenho que discutir ali com o senhor…

– Ouça – insistia Carlos – é negócio de os accionistas ganharem 40 por cento, avaliando muito por baixo.

O homem, que era de ingenuidade proverbial entre os colegas, olhou para Carlos com gesto entre desconfiado e inquiridor.

Depois a frase «40 por cento» era de uma sonoridade!

A fisionomia de Carlos tomara uma expressão de sisudez irrepreensível.

– Pois sim, mas… eu agora… – dizia ainda o homem.

Carlos insistiu:

– Olhe que lhe falo a sério. É uma companhia de capitalistas ingleses que se vai meter nisso. Meu pai está encarregado do trabalho da instituição. É por isso que eu…

– Mas que é afinal? – perguntou o sujeito com curiosidade.

– Demais espera-se que o governo conceda um subsídio…

O homem teve vontade de perguntar quem era o governo, mas resistiu à tentação desta vez.

– Mas qual é o fim? – perguntou em vez disso.

– E o comércio do Porto vai ressentir-se vantajosamente deste cometimento – continuava Carlos, deveras embaraçado em organizar a tal companhia.

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pág. 88 (Capítulo 8)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 88

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432