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Capítulo 8: VIII - Na praça

Página 90
É preciso que se diga que Carlos sabia, por acaso, que este capitalista havia recebido, aquela mesma manhã, uma carta de Lisboa, assegurando-lhe que fora provido, no lugar disputado, um parente seu. Esta circunstância fez com que o pouco dissimulado irmão de Jenny ficasse verdadeiramente abismado diante da impavidez com que o negociante iludia o amigo. Obedecendo à franqueza pouco de sociedade, que dissemos ser um dos elementos do carácter dele, Carlos não pôde enfim reprimir-se, que não dissesse:

– Mas, senhor F., olhe o que promete; esquece-se de que o seu parente C. foi, ontem mesmo, despachado para esse lugar?

Seguiu-se uma careta entre os dois interlocutores, que trocaram algumas frases, em tais casos forçosamente tolas; fartos enfim de mastigar orações sem nexo, separaram-se friamente.

O capitalista ralhou muito com Carlos; porém Carlos ainda ralhou mais com ele pela sua pouca lisura.

E o certo é que ficaram amigos. Há nos caracteres francos e generosos, como o de Carlos, o que quer que seja que dissipa ressentimentos ainda aos mais reservados e egoístas.

Resolveu finalmente o irmão de Jenny entrar no escritório.

Ao dirigir-se para lá, viu que lhe vinha ao encontro um homem gordo, baixo e corado, que já de longe lhe estava fazendo cortesias.

Parou a escutá-lo.

– V. S.a passou bem? – disse o recém-chegado.

Carlos correspondeu ao cumprimento.

– Ora eu – continuou o homem – já há pouco fui ao escritório de V. S.a, mas nem V. S.a nem o senhor seu pai lá estavam. Eu não sei se V. S.a me conhece.

– Não, senhor – disse Carlos, entretido a olhar para o laço da gravata do seu interlocutor.

– Eu sou Anastácio Rebelo, que fiz aquele carregamento de laranjas o ano passado…

Carlos fez distraidamente um gesto afirmativo, e passou a examinar o botão do peito do Sr.

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pág. 90 (Capítulo 8)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 90

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432