Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 11: XI - Sonhos e esperanças

Página 56

- Escreve num grande livro em branco uma coisa chamada SONHOS - respondeu Joana.

A fidalga pediu, rogou e suplicou à costureira que lhos deixasse ver.

Joana hesitou muitos dias em denunciar a sua curiosidade a Francisco; todavia, importunada por Ângela, referiu ao irmão a sua imprudência.

Fraqueza congenial do homem! Teve o rapaz uns assomos de júbilo com os rogos de Ângela! Releu os seus SONHOS, deu o manuscrito à irmã, e disse-lhe:

- Pede-lhe que rasgue esses papéis depois de os ler.

Ângela pairava em regiões sobpostas à do seu espiritual adorador. Adivinhou mais do que percebeu. Decorou até o que não entendia.

Vem de molde o encher-se um vácuo importante desta história. A educação literária da filha de D. Maria d’Antas era igual à do capelão que lha transmitira. Escrevia com a ortografia do padre, quase nunca racional. Lia os livros de sua tia, que se prezava de perceber a Recreação filosófica do padre Teodoro de Almeida, e relia todos os anos o Feliz independente do mesmo congregado, o Belizário de Marmontel, e outros livros, cujas passagens notáveis andavam de memória na família.

Que montava isto? O amor de Deus infundiu a máxima ciência nos apóstolos ignorantes. O amor do homem arroteia e enfrutece, a súbitas, o mais maninho entendimento de mulher. Fenômenos do amor. O divino, florejando e aromatizando mártires e santos, ala os amados à glória. O humano com seus relâmpagos que abrasam, e perfumes que embriagam e asfixiam, despenha-se nos recôncavos do inferno, que neste mundo se chama o desesperar.

Ângela sentiu destecer-se o escuro de sua ignorância ao compasso da leitura noturna que fazia dos SONHOS. Aquele livro não lhe ensinava história, nem gramática, nem geografia, e outras coisas que, não sabidas, constituem a ignorância humana.

<< Página Anterior

pág. 56 (Capítulo 11)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 56

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174