A tarde adiantava-se e Carlos não se desviava dali; prendia-lhe as atenções aquela casa e a simpática visão da varanda.
Afinal fecharam-se as janelas. Pouco faltava para o Sol se esconder de todo no mar. Carlos reparou então que era tempo de voltar a casa.
Olhou mais outra vez ainda, e com saudade quase, para a varanda. Os seus poucos e imperfeitos conhecimentos da topografia daquela parte da cidade não lhe permitiram conjecturar sequer qual fosse a rua a que pertencia a habitação.
A nossa costumada discrição impede-nos de compensar este defeito.
Seguindo outra vez o caminho, por onde viera, Carlos voltou a casa, mas a passos mais apressados.
Já próximo da porta, sentiu uma mão que se lhe pousava no ombro. Voltou-se; reconheceu um de seus amigos.
– Que fazes tu, homem?
– Recolho-me.
– De onde vens?
– Do campo.
– Ah! cultivas a bucólica? a poesia pastoril?
– Às vezes.
– Dou-te os pêsames. Gessner envelheceu; Florian dorme o sono dos inofensivos. A propósito, já te mostrei o meu folhetim de crítica, a respeito do volume do Serrão?
– Ainda não.
– Aparece então no Guichard esta noite. O livro é um pretexto; o que eu procuro é caracterizar a literatura moderna, extremando os campos, hoje um pouco confusos, de românticos e de clássicos. Sabes que é o meu sistema investigar nas pequenas aparências as grandes revelações? É o que faço desta vez ainda. Assim, neste estudo, serviram-me de ponto de partida duas palavras apenas; uma colhida de Racine, na Berenice; outra de Vítor Hugo, no Ruy Blas. São as palavras finais de uma e de outra tragédia. Antiochus vê partir Berenice e exclama: Hélas! Ruy Blas morre nos braços da rainha e murmura: Merci! Basta-me isto.