Uma Família Inglesa - Cap. 14: XIV - Iminências de crise Pág. 166 / 432

Ao estado do seu coração não satisfazia só o sorriso fraternal e meigo que animava de bondade as feições da irmã. A seu pesar, surpreendia-se a aspirar a mais.

A tarde adiantava-se e Carlos não se desviava dali; prendia-lhe as atenções aquela casa e a simpática visão da varanda.

Afinal fecharam-se as janelas. Pouco faltava para o Sol se esconder de todo no mar. Carlos reparou então que era tempo de voltar a casa.

Olhou mais outra vez ainda, e com saudade quase, para a varanda. Os seus poucos e imperfeitos conhecimentos da topografia daquela parte da cidade não lhe permitiram conjecturar sequer qual fosse a rua a que pertencia a habitação.

A nossa costumada discrição impede-nos de compensar este defeito.

Seguindo outra vez o caminho, por onde viera, Carlos voltou a casa, mas a passos mais apressados.

Já próximo da porta, sentiu uma mão que se lhe pousava no ombro. Voltou-se; reconheceu um de seus amigos.

– Que fazes tu, homem?

– Recolho-me.

– De onde vens?

– Do campo.

– Ah! cultivas a bucólica? a poesia pastoril?

– Às vezes.

– Dou-te os pêsames. Gessner envelheceu; Florian dorme o sono dos inofensivos. A propósito, já te mostrei o meu folhetim de crítica, a respeito do volume do Serrão?

– Ainda não.

– Aparece então no Guichard esta noite. O livro é um pretexto; o que eu procuro é caracterizar a literatura moderna, extremando os campos, hoje um pouco confusos, de românticos e de clássicos. Sabes que é o meu sistema investigar nas pequenas aparências as grandes revelações? É o que faço desta vez ainda. Assim, neste estudo, serviram-me de ponto de partida duas palavras apenas; uma colhida de Racine, na Berenice; outra de Vítor Hugo, no Ruy Blas. São as palavras finais de uma e de outra tragédia. Antiochus vê partir Berenice e exclama: Hélas! Ruy Blas morre nos braços da rainha e murmura: Merci! Basta-me isto.





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