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Capítulo 14: XIV - Iminências de crise

Página 165

Mas, instantes depois, alguma coisa se passou, que foi como que o laço de união entre o objecto das contemplações dos olhos e o das do espírito, que, desde então, se associou àqueles, no exame da modesta vivenda, em cujas vidraças o sol simulava a aparência de um vasto incêndio.

O fenómeno nada tinha de extraordinário contudo. Na varanda de cima aparecia uma mulher; nada mais. Mas esta mulher, ainda que a distância mal permitisse distingui-la, mostrava, pela elegância de estatura e pela vivacidade de movimentos, ser ainda jovem. Não era para estranhar que a imaginação de um rapaz de vinte anos a supusesse também formosa.

Viera examinar a roupa, que estava a corar ao sol; tirava uma e substituía-a por a que trazia de dentro; mais adiante, mudava a face exposta de outra; de quando em quando interrompia o trabalho e olhava para fora, pondo a mão por cima dos olhos, como a abrigá-los da intensidade da luz; outras vezes, voltava-se para a sala e parecia falar a alguém de dentro. Depois desaparecia; voltava de novo, e sempre, com manifesta solicitude, aplicada ao trabalho.

Carlos seguia com prazer o ir e voltar daquela mulher, que a custo distinguia, mas que nem por momentos imaginou que pudesse ser uma criada.

Ele, que estivera sonhando com os encantos do viver íntimo, aprazia-se de imaginar agora, naquela casa, um desses mundozinhos modestos, que lhe estava a apetecer.

– Uma esposa, nova por certo, canseirosa com os negócios domésticos… – pensava ele.

– Deve ser um prazer indefinível sentir-se a gente viver sob os cuidados de um destes entes, votados assim inteiramente à nossa felicidade…

Era natural, desde que pensou isto, que se lembrasse de Jenny. Lembrou-se, é verdade; mas a imaginação sorriu afectuosamente àquela doce imagem, e deixou-a.

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pág. 165 (Capítulo 14)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 165

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432