Uma Família Inglesa - Cap. 15: XV - Vida inglesa Pág. 170 / 432

O pudding era pretexto para falar no monstruoso pudding que se cozinhava na Inglaterra, em não sei que solenidade popular, e daí a enumeração de muitos outros usos e costumes nacionais e de várias festas notáveis. Entre essas, a mais detidamente descrita era a do Lorde Mayor; nesse dia, guardado por toda a City como dia santo, o personagem eleito para aquele alto cargo é processionalmente levado à presença do Lorde Chanceler, com o fim de ser por ele confirmada a sua eleição. Mr. Richard sabia e descrevia todas as particularidades do cerimonial, bem como todas as atribuições dos multiplicados cargos de que se compõe a excepcional corporação de Londres, desde o alto Lorde Mayor até o mais modesto bedel de paróquia.

Como na procissão fluvial pelo Tamisa, celebrada naquele dia, Mr. Richard estivera de uma vez em risco de se afogar, a referência minuciosa deste caso pedia a de um outro análogo que lhe sucedera por ocasião dos tumultos populares ocorridos durante o processo de divórcio de Jorge IV, e atrás disto vinha a história desse escandaloso processo, e várias particularidades, pouco edificantes, a respeito da rainha Carolina e do seu favorito Bergamy.

Carlos ouvia tudo isto calado, com ar de resignação e deferência filial; Jenny com uma fisionomia mais atenta, ainda que nem sempre a atenção do rosto lhe estivesse no espírito também.

Jenny era a primeira a retirar-se da mesa, segundo o discreto costume, hoje mais seguido, mas originariamente britânico.

Então tomavam maior incremento ainda as libações de Mr. Richard Whitestone.

Acendia um charuto e dava-se uns ares de familiaridade, que em nenhuma outra ocasião se repetiam.

Carlos, de ordinário, perdia também então um pouco do habitual retraimento para com o pai, e, fumando defronte dele, entrava com mais desafogo neste diálogo.





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