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Capítulo 15: XV - Vida inglesa

Página 171

Naquela tarde, porém, conservou-se ainda pouco expansivo, e quase distraído, perante a crescente comunicabilidade de Mr. Richard.

Neste diálogo inter pocula eram infalíveis as referências do negociante ao seu livro favorito – O Tristram Shandy, de Sterne.

Mr. Richard apreciava tudo naquele livro extravagante. Sabia-o quase de cor e, apesar disso, lia-o ainda e de todas as vezes ria com a mesma vontade, não obstante não encontrar no decurso da leitura já coisa alguma imprevista.

Carlos, ainda quando não tivesse lido a obra, tinha já razão para a conhecer a fundo, graças às quotidianas citações do pai; era, porém, obrigado a escutá-lo, como se tudo fosse novo para ele.

As dissertações filosóficas do pai de Tristram, as ingenuidades e venetas guerreiras do tio Tobias, as argúcias e façanhas do Corporal Trim, as intermináveis e extravagantes divagações de Tristram – o suposto autobiógrafo, tudo Mr. Richard citava com entusiasmo e com vivacidade.

Não lhe passavam por alto os episódios e as dissertações, que respiram certas liberdades, verdadeiramente rabelesianas, capazes de alvoroçar os ouvidos menos pechosos. O episódio dos amores do tio Tobias e os do seu fiel camarada, de índole menos quixotesca, eram até das passagens favoritas e das que com mais cordiais risadas comentava.

Vinham luzes e prosseguia o diálogo, nem sempre demasiado ingénuo.

Ao levantar da mesa, tomavam-se posições ao fogão; a conversa continuava, mas o ponto culminante da loquacidade e da viveza de Mr. Richard Whitestone tinha passado já.

Neste primeiro período de declinação sobrevinham as citações do Tom Jones.

Mr. Richard não se cansava também de exaltar aqueles soberbos perfis da pena de Fielding e as judiciosas reflexões que o autor mistura à narrativa.

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pág. 171 (Capítulo 15)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 171

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432