Uma Família Inglesa - Cap. 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência Pág. 210 / 432

Tinha a varanda revestida de trepadeiras, uma roseira no intervalo das duas janelas e, no andar de cima, aparecia frequentemente uma senhora, toda ocupada em trabalhos domésticos, nesse lidar modesto que rodeia, a meus olhos, de suave perfume de poesia as mais belas figuras de mulher.

Cecília baixou os olhos, corando, e pareceu entretida a examinar a andarela do castiçal de vidro, que lhe ficava à mão.

– Imagine agora a minha surpresa, quando, há pouco, chegando aqui, reconheci esta varanda, esta janela, esta roseira, por as mesmas que de tão longe me haviam chamado a atenção. Daí – acrescentou, sorrindo – fácil me foi concluir quem era a senhora. Não haverá mistério nisto? Não parece que esta roseira queria aconselhar-me de longe o passo que hoje dei? Eu, por mim, estou tentado a crê-lo, e tanto que, por gratidão, peço-lhe licença, minha senhora, para levar comigo uma memória dela. Permite-me que corte uma daquelas flores?

Cecília só pôde sorrir em resposta, baixando a cabeça.

Carlos aproximou-se da roseira e cortou um botão ainda mal desabrochado; voltando à sala, curvou-se respeitosamente diante de Cecília e, depois de mais outra frase de cumprimento, saiu.

Ela viu-o sair, sem que fizesse o menor movimento, e por muito tempo permaneceu no mesmo lugar e na mesma posição em que havia ficado.

Dominava-lhe o espírito um turbilhão de ideias, que ora o mortificavam, ora, não sei de que maneira, o embalavam agradavelmente.

Foi ainda Antónia quem fez cessar mais esta abstracção.

– Então quem era afinal este senhor de tantos recatos e cautelas? – perguntou a criada, a quem a curiosidade mordia com verdadeira sofreguidão.

– Pois não conheceu? Era o filho do Sr. Ricardo, do patrão do pai…

– Ai sim?! Como está um homem!





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