Uma Família Inglesa - Cap. 18: XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos Pág. 214 / 432

Vejam se não é sério o estado do coração de Carlos, que assim está quase a torná-lo supersticioso.

Eram duas horas da tarde quando Carlos chegou a casa. Tomando por uma rua do jardim, para onde se abriam as janelas do quarto da irmã, parou por baixo delas, e bateu nos vidros uma leve pancada.

Pouco depois agitaram-se, afastando-se, as cortinas, e o vulto de Jenny acudiu àquele sinal.

– És tu, Charles?! A estas horas!

– Podes falar-me, Jenny?

– Entra.

Carlos tornou outra vez por a rua, por onde viera; entrou no portal; atravessou alguns corredores e dentro em pouco achava-se no quarto de Jenny.

Jenny estava ocupada na feitura do enxoval de uma criança recém-nascida, cuja pobre família era socorrida por a bondosa menina.

Carlos sentou-se ao lado da irmã.

Jenny continuou a trabalhar.

– Então que milagre é este? As magnólias do jardim haviam de fazer um espanto ao verem-te entre si a estas horas do dia!

– Sabes de onde venho? – perguntou Carlos, em vez de responder e brincando maquinalmente com um colar de corais, que tirara de cima do toucador.

– Eu, não – disse Jenny, sem olhar para o irmão.

– Venho de casa de Manuel Quintino.

– De casa de Manuel Quintino? E a que foste lá?

– Pedir perdão a Cecília.

Houve um intervalo de silêncio.

Jenny voltara-se subitamente para Carlos, fixando nele o olhar sério e penetrante; Carlos, com a cabeça baixa, parecia todo absorvido na tarefa de contar o número de corais de que se compunha a enfiadura.

– Dizes a verdade, Charles? – perguntou Jenny, ainda imóvel, e continuando a fitá-lo.

– Então porque não há-de ser isto verdade?– replicou Carlos, também na mesma posição.

– E falaste-lhe?

– Falei.

– Que lhe disseste?

– Confessei-me culpado de quanto tivera lugar naquela noite do baile e… pedi-lhe perdão…

– E ela?…

– E ela… – prosseguiu Carlos, pousando enfim o colar – depois de algumas modestas hesitações… perdoou-me.





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