Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 18: XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos

Página 213

O orgulho leva muitas vezes o criminoso a recusar defender-se nos tribunais humanos; nem o desprezo geral, nem as severidades da lei são bastantes para o obrigarem a vergar a cabeça; tem coragem para adoptar o crime, deixando-lhe o nome de crime; mas esse mesmo, a sós, no tribunal da consciência, procurará com ardor pleitear a causa que abandonou perante juízes, de cujas mãos pode sair a sentença de morte.

Longe de nós querer estabelecer analogias, muito íntimas, entre estes perpetradores de grandes maldades e Carlos, que, para com a consciência, só tinha a justificar-se de um desses pecaditos que, mais ou menos, há-de forçosamente cometer quem não tenha nas veias um sangue de vinte anos.

Mas é um tal júri o da consciência, que, sempre que tais pleitos são necessários no seu tribunal, a causa é já por isso má. Para as justas dispensa advogados.

Não procuremos iludir-nos nós, como Carlos; sem querer duvidar dos bons sentimentos dele, pode-se ir buscar outras razões para a visita, cujos pormenores no último capítulo relatámos.

O que é fora de dúvida é que, depois daquela vigília em que o leitor o viu, não teve Carlos pensamento e imaginação, senão para descobrir um meio de tornar a encontrar-se com Cecília e de falar-lhe.

O resultado foi o que sabemos.

Se havia sido tão profunda a impressão produzida por a casual revelação do teatro naquele espírito afectado já de vagos prelúdios do mal, mais a fundo se gravou ainda depois da visita feita a Cecília.

Parecia que nas poucas palavras que nessa entrevista Cecília pronunciara, Carlos tinha decifrado sentidos ocultos; pensava nelas!

Depois a consciência de ter sido quase evocado por aquela mal distinta figura de mulher, quando dias antes fitara de longe distraidamente os olhos em uma janela, avultava-lhe agora como uma coisa acima do simples acaso; por pouco estava a acreditar que a secreto influxo lhe haviam nesse dia obedecido os olhos.

<< Página Anterior

pág. 213 (Capítulo 18)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 213

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432