Uma Família Inglesa - Cap. 21: XXI - O que vale uma resolução Pág. 249 / 432

Andavam já bem perto dos olhos as lágrimas em Cecília, quando Antónia voltou com a luz.

– Então, ainda nada? – perguntou a criada.

Cecília não lhe respondeu.

– Quer que feche as janelas?

– Não.

– Não tem que ver; a coisa não é natural. O pai é amigo de recolher-se cedo e não era homem que não mandasse recado, no caso de, de todo em todo, não poder vir. Ninguém me tira disto. Aquilo foi coisa que lhe sucedeu por lá.

O relógio deu meia hora depois das sete.

– Já sete e meia! Sempre é de mais! Ó menina, eu vou extrair o chá, não acha?

– Não; cale-se para aí. Quero lá saber do chá. Bem me importa a mim o chá. Você perdeu o juízo?

– É que o Sr. José Fortunato não tarda por aí…

– Pois se vier, veio. Não tenho mais em que pensar, senão no Sr. José Fortunato! Deixe-me, deixe-me.

Antónia era destas pessoas a quem as maiores inquietações não fazem perder a ideia das suas obrigações habituais. Enquanto o espírito se perturba e a boca lhe traduz os pensamentos, as mãos, independentes da imaginação, prosseguem na tarefa do costume.

Cecília não; carácter apaixonado, era toda a ideia que a possuía. A irresolução que devia àquele estado de ansiosa dúvida para tudo a inabilitava.

Em nada consentia que lhe falassem naquele momento, nada queria escutar, de nada queria saber.

Ansiava, nervosa, impaciente, febril, passava de uma para outra janela, voltava ao interior da sala, chegava ao patamar, e corria à janela outra vez.

Em uma destas ocasiões ouviu duas mulheres, que passavam na rua, dizerem:

– Uma desgraça assim! Foram todos; uns morreram, outros ficaram aleijados para toda a vida.

O coração de Cecília bateu com violência ao ouvir aquilo. Não pôde reprimir-se, que não perguntasse às mulheres de que desgraça falavam.





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