E tremia de ouvir a resposta. Disseram-lhe que era de uma saibreira que desabara na véspera sobre uns trabalhadores. Respirou!
De outra vez, era um homem que viera a correr desde o princípio da rua e parara defronte da casa, irresoluto, como quem procurava reconhecer uma de entre aquelas diversas moradas. Cecília queria perguntar-lhe quem ele procurava, mas quase não tinha voz para o fazer, tal era o intenso terror que se apossou dela, ao ver este homem.
Parecia-lhe impossível que não fosse algum mensageiro de desgraças.
Afinal conseguiu falar-lhe. O homem procurava um vizinho.
Cecília guiou-o, ainda mal restabelecida do susto que sentira.
Tendo voltado à sala, ouviu tocar a campainha do portal.
Estremeceu alvoroçada de esperanças e de temores.
– Será ele?
Neste tempo já Antónia vinha no corredor e com fleuma inalterável atalhou:
– É o Sr. José Fortunato; são as horas.
Cecília voltou as costas despeitada e triste. Sentiu no coração uma quase má vontade contra o nocturno visitador.
Era de facto o Sr. José Fortunato que chegava.
– Muito boa-noite, menina; passou bem? – disse José Fortunato, ao entrar para a sala.
– Muito aflita, Sr. José Fortunato, muito aflita, não faz ideia! – respondeu Cecília.
– Sim?! – tornou o outro, pousando os vários artigos do seu complicado vestuário, guarda-chuva, capote, cachenez, luvas, chapéu, a caixa do tabaco, e tomando assento no lugar do costume.
– Pois não quer saber? – continuou Cecília – meu pai saiu esta tarde, a dar um passeio, e são as horas que vê, e não voltou ainda a casa!
– Na verdade, é… é célebre! Suceder-lhe-ia alguma coisa?
Pergunta suficientemente tola.
José Fortunato rivalizava com Antónia, na maneira de intervir na presente crise; as suas palavras, longe de serem tranquilizadoras, tinham por efeito exacerbar a inquietação e o susto.