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Capítulo 21: XXI - O que vale uma resolução

Página 248
Nem que o pai fosse para algum sertão de selvagens. Você tem coisas!

– Pois sim, mas o que é certo é que se a demora fosse natural, ele é que já tinha mandado aviso. Pois então não havia de saber a canseira e susto que causava à menina?

Cecília afastou-se, impaciente, desta Cassandra de cozinha, e voltou à janela.

Estavam já acesos os lampiões da rua. As sombras da noite parecia estenderem-se ao coração de Cecília.

– A menina quer que traga luz? – perguntou a criada, entrando na sala.

Esta pergunta, obrigando-a a notar o adiantado da hora, soou funebremente aos ouvidos de Cecília.

– Não – disse ela, com voz alterada. – Luz, tão cedo!

– Cedo?! Onde vão as sete, menina! Está de ver que não vem.

– Que não vem! Que não vem! Você está doida, mulher? Pois não há-de vir? – exclamou, com dobrada impaciência e quase com raiva, Cecília, debruçando-se mais na janela.

– A menina não faz nada em o esperar assim. Lá por estar aí não é que ele vem mais depressa – ponderou tolamente a Sr.a Antónia.

– Não lhe importe; deixe-me – disse-lhe secamente Cecília.

– Uma coisa assim! – prosseguiu a criada. – Não que quando a gente mal se precata! Sai uma pessoa muito sossegada de sua casa e só Deus sabe para quê! Para onde iria também aquela criaturinha do Senhor? Quem pode lá dizer o que lhe sucedeu? Sume-te! Eu lembro-me de que um dia meu pai...

– Vá buscar luz, vá – ordenou Cecília, para escapar ao caso que Antónia aparelhava, com o piedoso intento de tirar dele talvez uma indução pouco de tranquilizar.

Antónia saiu.

Cecília, de assustada que estava, já não sabia o que fizesse.

Qualquer vulto, que assomava ao princípio da rua, lhe parecia o pai; seguia-o com ansiosa curiosidade, cedo transformava-se em desalento esta curiosidade, porque o via passar indiferente para além da porta da casa.

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pág. 248 (Capítulo 21)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 248

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432