Uma Família Inglesa - Cap. 22: XXII - Educação comercial Pág. 264 / 432

À própria Cecília surpreendeu o oferecimento. Ambos julgaram isto um gracejo da parte de Carlos. Contudo, era tão séria a expressão que tomou, naquele momento, a fisionomia dele, que Cecília principiou logo a acreditar que não era zombaria a proposta.

Manuel Quintino não se convenceu tão depressa.

– Então com que… encarrega-se da escrituração? – perguntou o velho, não podendo reter um sorriso, o primeiro que se lhe desenhou nos lábios aquela manhã.

– Encarrego, sim.

– Olhem que fortuna para a casa! Agora é que ela prospera… Eh! eh! eh! Valha-me Santo António!…

– Então faz-me a injustiça de me supor incapaz de aplicar as minhas forças a uma empresa qualquer, quando daí possa provir algum bem para um amigo?

Desde que Carlos fez esta pergunta, Cecília esposou logo mentalmente a causa dele: não só acreditou na sinceridade do oferecimento, mas até – vejam que confiança! – até na possibilidade, ou mais ainda, na probabilidade da sua realização.

Manuel Quintino não era tão fácil de mover dos seus juízos. Contudo, também o abalaram as palavras de Carlos, ainda que em outro sentido.

– Não, homem – disse o guarda-livros, meio comovido –; eu não duvido da sua boa vontade, nem do seu ânimo decidido para sacrifícios. Bem recentes tenho provas que me não deixam duvidar. Sei que lhe devo talvez a vida. Não pense que sou ingrato. Mas, venha cá, ouça: como quer encarregar-se de um serviço ao qual tem sempre andado estranho? Era como se eu me metesse a ir salvar a nado alguém que estivesse a afogar-se no meio do rio. De que me valeriam os bons desejos, se iria ao fundo, como um prego, antes de lá chegar?

– Mas tão difíceis lhe parecem essas coisas de comércio, que, dentro em dois ou três dias, com alguns conselhos e explicações suas, eu não me habilite a compreendê-las?

Manuel Quintino encolheu os ombros.





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