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Capítulo 22: XXII - Educação comercial

Página 263

– O Paulo?! O senhor tem coisas!… Cuida que escrever nos livros comerciais é o mesmo que fazer um rol de roupa suja?!

– Ao princípio não duvido que se lute com alguma dificuldade, mas no fim de três dias…

– Três horas, três horas… é melhor três horas… Valha-o Deus!… Ó Cecília, eu não posso levar ao fim este caldo… Tira para lá, filha…

– Era uma colher só – disse Cecília, fingindo que lhe obedecia, mas com um modo que quebrou a Manuel Quintino a coragem de resistir-lhe.

– Então dá cá. – E, fechando os olhos, esgotou até às fezes aquela espécie de taça de amargura, fez uma careta, e respirou no fim, como se se aliviasse de enorme encargo.

Daí a pouco, a ideia de faltar ao escritório incomodava-o outra vez. Antevia mil complicações sérias nos negócios pendentes, e tão longe ia, neste caminho, a sua fértil imaginação, que não parava senão em iminente falência.

Homem habituado a não passar um só dia ocioso, exagerava as consequências da sua falta; guarda-livros que adquirira, por trabalhosa experiência, o saber comercial, supunha indispensáveis anos para habilitar qualquer inteligência a adquirir igual saber e a ordenar a escrituração dos livros de comércio.

Por isso ouviu com espanto, acompanhado de zombaria, a proposta que, como extremo e eficaz recurso, Carlos acabou por lhe fazer, depois de em longa discussão sobre o assunto ter, com o auxílio de Cecília, combatido aquelas apreensões.

– Está bom; sossegue – disse Carlos. – Deixe-se ficar na cama o tempo que quiser e que lhe for preciso, porque, enquanto à escrituração, eu encarrego-me dela.

Manuel Quintino conservou por algum tempo os olhos muito abertos, voltados para o filho de Mr. Richard; lá lhe parecia tão extravagante aquela promessa em um homem de cuja experiência comercial sabia o que pensar, que nem com resposta atinou que lhe desse.

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pág. 263 (Capítulo 22)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 263

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432