Uma Família Inglesa - Cap. 25: XXV - Tempestade doméstica Pág. 292 / 432

O criado, que estava à porta quando Mr. Richard chegou a casa, era o mesmo que recebera pela manhã a visita que tanto indignara a Sr.a Antónia.

– A que horas saiu hoje o Sr. Carlos? – perguntou Mr. Richard, em tom de voz seco e áspero.

– Às… às dez horas – respondeu, já sobressaltado, o criado.

– Só?

O rapaz teve vontade de dizer que sim, mas Mr. Richard fitava-o com um olhar que lhe desvaneceu toda a impassibilidade precisa para isso.

– Só? – repetiu o inglês, com mais força.

– Não… não senhor… – respondeu o criado.

– Então?

– Com… com…

– Com quem? – respondeu Mr. Richard, cada vez mais imperioso.

– Com uma senhora, que… que veio procurá-lo… mas… era já de idade – acrescentou o homem, como correctivo.

Porém Mr. Richard já lhe havia voltado as costas, entrando para casa. Jenny estranhou-o. Hábil na leitura daquela fisionomia, nem uma só ruga, que acidentalmente a carregasse, podia passar-lhe despercebida e sem lhe excitar desejos de decifrá-la.

Mr. Richard respondeu benignamente, mas em poucas palavras, às perguntas de Jenny, e quis saber se Carlos já tinha vindo para casa.

Recebendo resposta afirmativa, acrescentou que, antes de jantar, desejava ir ao quarto dele.

Era esta resolução tão extraordinária, que Jenny, ao ouvi-la, olhou fixamente para o pai.

Conheceu que alguma coisa tinha ocorrido, capaz de trazer após si uma dessas cenas violentas que ela tanto fazia por afastar.

Pretendeu conjurá-la.

– Pois vamos – disse a sorrir, e dispondo-se a acompanhar o pai.

– Não, não – respondeu Mr. Richard, afastando-a com doce violência. – Eu pretendo… preciso de falar-lhe a sós.

Jenny soltou-lhe o braço, a que já se apoiara, desanimada com a frieza, mal oculta, daquelas palavras.

Mr. Richard tentou abrandar a impressão do primeiro movimento, dizendo:

– É de negócios que se trata… Até já!… No entretanto, podes mandar servir o jantar.





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