Uma Família Inglesa - Cap. 32: XXXII - Os convivas de Mr. Richard Pág. 364 / 432

O gabinete em que se reuniam os dois ingleses era um compêndio do quanto pode tornar o curso da vida fácil e suave; tudo ali respirava conforto; tudo favorecia aquele doce repousar de fadigas, melhor do que por ninguém saboreado pelos Her Majesty’s subjects residentes nos nossos climas meridionais.

Cadeiras de várias formas e mecanismos, nas quais se esmera o génio inventivo em multiplicar e variar as molas, em distribuir as articulações, em combinar os movimentos, em contornar os ângulos e saliências até acomodá-las, o mais possível, a todas as posturas, por mais caprichosas e extravagantes que o instinto do repouso as pudesse sugerir; tapetes, onde os pés se profundavam como na relva dos campos; cortinas a temperarem a intensidade da luz, e finalmente o fogo, companheiro inseparável destas organizações do norte, ainda naquele mês quase de Estio, a crepitar e a lamber com a língua inflamada as grades do fogão. Mr. Whitestone pensava como S. Francisco de Sales, a quem atribuem a opinião de que o fogo é bom durante doze meses no ano.

Mr. Morlays encontrou em tudo isto motivos para observações de crítica atrabiliária.

– Maus hábitos, Mr. Richard, maus hábitos! Estes costumes elanguescedores são os que têm operado a visível degeneração da raça humana. As escrófulas…

– Misericórdia, Mr. Morlays! Que feia palavra para antes de jantar! – exclamou Mr. Richard, rindo.

– São os males da civilização. Depois do açúcar, o pior inimigo do nosso organismo é o fogão.

– Então o açúcar também?

– O açúcar! Eu tenho para mim que a mais lastimosa descoberta da indústria do homem foi a desse pó insidioso, que traiçoeiramente nos tem envenenado o corpo todo, misturando-se ao sangue…

– É célebre! Eu tinha ideia de que Mr. Morlays era até apaixonado pelo doce!

– E que prova isso? A nossa natureza é feita assim.





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