Uma Família Inglesa - Cap. 7: VII - Revista da noite Pág. 73 / 432

Conheço que é fácil iludir-se então o olhar e fantasiar-se falsamente o todo pela parte que se pode ver, conheço…

– Basta, basta, Charles. Pena é que de tão pouco te sirva o tanto que conheces, visto que ainda ontem…

– Ontem não havia, não podia haver ilusão. Isso é que não. Aquela cabeça não era dessas cabeças buliçosas, como folhas de álamo, que morrem por serem adivinhadas. Era uma cabeça cismadora, melancólica, cheia de sentimento, estremecendo a cada beleza que, com pesar seu, não pudera ocultar…

– Ah! Que singular cabeça!

– E depois há certos extremos de perfeição, que a Natureza, quando os cria, não os vai desperdiçar assim em qualquer rosto que nas mais feições destoe desses primores parciais. E neste caso estava tudo o que vira do perfil da minha simpática vizinha, a quem dirigi a palavra!

– A quem dirigiste a palavra!

– Sim; que achas tu de extraordinário nisto, para fazeres esse movimento? Num baile de máscaras prescinde-se das apresentações, ridícula invenção da etiqueta, que eu desconfio ser originária da nossa diplomática Inglaterra.

A reflexão histórica transformou num sorriso o movimento de surpresa de Jenny.

Carlos continuou:

– E depois vais ver que tudo quanto lhe disse podia bem ser repetido à mais ingénua lady num dos nossos bailes de família. Afinal de contas, irmãzita, eu, que arranjei por aí, não sei bem como, a reputação de atrevido, tenho ainda canduras de que muitos dos mais tímidos se riam já aos quinze anos.

Esta confissão, na qual alguma coisa havia verdadeira, desafiou em Jenny um gesto de dúvida, que o mesmo sorriso afectuoso veio porém suavizar.

– Olha que é assim – prosseguiu o irmão – e senão… escuta. Como te disse, falei à minha simpática vizinha. Perguntei-lhe se estava muito fatigada.





Os capítulos deste livro