Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: VII - Revista da noite

Página 72
Como a felicidade alheia não é espectáculo de que nos venha conforto, quando o infortúnio nos punge, desviei com despeito os olhos desta bem-aventurança e voltei-os…

– Para o lado esquerdo?

– Justamente; para o lado esquerdo.

– E… e o que achaste desse lado do coração, Charles? – perguntou Jenny, sorrindo.

– Ai, Jenny! ai, minha pobre irmã! prepara a tua santa paciência, que aqui venho eu confiar-te mais uma das minhas paixões.

– Eu logo vi; não sei por que foi que to estava a ler no rosto. Então é deveras uma paixão?

– Receio que sim.

– Pobre Charles! Que fatalidade!

– Estás a rir? – disse Carlos, sorrindo também e estendendo a chávena para a encher outra vez. – Ora ouve. Ao meu lado esquerdo, do lado do coração, como dizes, estava um dominó feminino, fitando-me de uma maneira… como nem te sei dizer… e com uns olhos… mal sabes que bonitos olhos eram aqueles, Jenny!

– Os da máscara? – perguntou Jenny, preparando a chávena.

– Não; os da mascarada, os quais eu percebia através das aberturas oculares da elegante máscara de cetim preto que ela trazia. A cabeça descaía-lhe ligeiramente sobre o ombro em postura de tanta languidez e melancolia, e nesta posição a seda da máscara descobria-lhe um canto de lábios e um princípio de colo tão bem modelados, que eu não pude desviar mais dali o olhar extasiado, e… e… Então que quer dizer agora esse teu sorriso, Jenny?

– Estou a admirar a rapidez com que te apaixonas e extasias.

– É que não imaginas que bonito contorno o daquele rosto; não imaginas! Eu digo-te uma coisa, Jenny; bem sei quantas ilusões andam ligadas à máscara de seda, que, por descuido estudado, se afasta um pouco, o preciso… o conveniente… Porque na maior parte dos rostos há pequenos pontos fracos, que a máscara artificiosamente oculta, deixando só aparecer as perfeições.

<< Página Anterior

pág. 72 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 72

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432