A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 16: XVI Pág. 248 / 508

- Aí está uma aparição tanto a tempo, prima Madalena, que aos mais incrédulos infundiria fé na intervenção da Providência.

Que foi sem dúvida providencial o acaso que trouxe por aqui, a estas horas mortas, um tão generoso e intrépido salvador. Não é verdade, prima? O que vale estar de bem com Deus! Estas palavras mostraram a Augusto que a sua intervenção, ainda que generosa e devida a um espontâneo impulso da alma, não fora porventura das mais convenientes.

- Senhor! - exclamou ele, indignado, dando um passo para Henrique.

- Sossegue - tornou este, com dobrado sarcasmo. - O senhor é um perfeito herói de romance; entusiasta, cavalheiresco, mas, em certas ocasiões, incómodo de candura, por isso mesmo. Se soubesse o transtorno que veio causar a um belo diálogo que eu sustentava aqui com a Sr.ª D. Madalena! Não vê como a deixou embaraçada? Perdeu com a sua vinda o fio da comédia que desempenhava com perfeita ciência de actriz. As almas ingénuas e generosas, como a sua, Sr. Augusto, são às vezes de uma impertinência! Vamos, Sr.ª D. Madalena; não descoroçoe. Assim esgotou todos os recursos da sua imaginação? Vamos, introduza mais este elemento de aparição de um herói no enredo, e organize a comédia com o superior talento que tem! Eu por mim aceito todos os papéis que me distribuir.

Augusto ia a responder, quando Madalena o atalhou, dizendo com voz firme:

- Perdão; vejo nesta noite em todos uma notável disposição para usurparem direitos, que não possuem! O Sr. Henrique, o de me interrogar; o Sr. Augusto o de me defender. A um repetirei o que já há pouco lhe disse: se algum dia tiver necessidade de explicar as minhas acções, fá-lo-ei diante de outros juízes em quem reconheça o direito de o serem. Ao outro peço licença para lhe lembrar que, se o título de hóspede e de parente não fosse bastante para me assegurar da parte do Sr.





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