XIII Ao outro dia a impaciência de Ângelo não lhe permitiu longa demora no leito. Tardava-lhe o ver todos aqueles sítios, tão seus conhecidos; árvores que uma por uma distinguia, sebes, atalhos de campos, e quebradas de montes. A custo o puderam reter para o almoço; resignou-se, porém, a não ultrapassar, até então, os muros da quinta. Logo, porém, que sorveu à pressa o último golo de chá, partiu, veloz como uma lebre, sem nem sequer dar ouvido à enfiada de recomendações de sua tia D. Vitória, que teimava em o querer prevenir, com socos, gabão e guarda-chuva, de uma hipotética mudança de tempo.
Ângelo partiu. A tudo que via pelo caminho encontrava ligada uma recordação e uma saudade; mas seguia sempre, como quem não errava ao acaso pelos campos, antes era guiado naquele passeio por um intento, que tinha pressa de realizar.
Atravessou grande parte da aldeia, cortejado, cumprimentado e festejado por quantos encontrava pelos caminhos, ou às portas e janelas das casas, nos campos e nos ribeiros.
Chegou enfim à casa, onde já dissemos morar o recoveiro Cancela e a sua filha Ermelinda.
Era evidentemente aquele o termo proposto por Ângelo ao passeio matinal, porque retardou o passo à medida que se aproximava, e parou à porta da casa.
Achou-a fechada, mas não lhe causou isso embaraço.
Como quem estava habituado a vencer estes estorvos, sondou resolutamente o muro do quintal, construído de pedras soltas, e dispôs-se à escalada.
Com a agilidade e destreza próprias de quem passou na aldeia os primeiros anos da vida, o irmão de Madalena trepou sem vacilar até o alto do muro, e num momento poisou os pés no chão do quintal.
Vendo-se dentro da fortaleza, olhou em redor com precaução e, com mais precaução ainda, se dirigiu para um bosquezito de laranjeiras, que era o lugar de recreio do pequeno horto.