Saindo da casa do Zé P’reira, Augusto teve de escutar, ainda por muito tempo, as vociferações e pragas com que o Herodes acoimava a fraqueza do compadre, que assim deixara a mulher tomar sobre si um ascendente ofensivo da dignidade varonil. Augusto ouviu tudo com resignado silêncio e atenção um pouco distraída, conseguindo, enfim, a custo, soltar-se das mãos do seu interlocutor, que, no fogo da exposição de tão justos agravos, lhe segurava os braços com pouco afável vivacidade; afinal, porém, pôde deixá-lo e voltou a casa.
Entrando no seu quarto, um pequeno e modesto quarto, mobilado com uma banca, poucas cadeiras e uma estante, cheia de livros, Augusto respirou.
Era ali o seu lugar de descanso; a escola era em outra casa vizinha.
Nesta não havia, a amargurar-lhe as horas do repouso, vestígios que lhe recordassem as do suplício.
Leitor filantropo, que, abrasado em santo amor da humanidade, só entrevês delícias na tarefa do ensino, e fazes deste vigiar e encaminhar o espírito infantil, que desabrocha e respira pela primeira vez no fecundo ambiente da ciência, um sedutor quadro de fantasia, perdoa-me a palavra «suplício», de que me servi, e perdoa ainda mais ao carácter de Augusto o ter saído exacta a expressão, que te feriu os humanitários instintos.
Eu bem sei que é uma sublime missão a do mestre, e que é uma graciosa e amorável idade a da infância; e poucos melhor do Augusto possuíam presente o ideal de uma e amenizavam à outra com branduras os amargores do penoso tirocínio; mas que importa? Nem por isso é menos real o suplício. A cultura dos espíritos é como a cultura das terras. O lavrador exulta, estremece de prazer, vendo pulular do solo, arado e semeado de pouco, os rebentos do grão que o calor