IV A casa do Mosteiro, com a quinta anexa à casa, como o dava a entender o nome pelo qual o povo a conhecia, tinha pertencido em tempos a uma Ordem monástica.
Era um destes conventos campestres que hoje ou se encontram em ruínas ou transformados em solar de alguma notabilidade provinciana.
Ao de que falamos coubera o último destino.
Incluído, depois do acto ditatorial de 1834, na lista dos bens nacionais, fora, por insignificante preço, vendido a um modesto proprietário das imediações, mais arrojado do que os vizinhos, ou mais convencido da estabilidade da nova ordem de coisas políticas, que se inaugurava no país.
E, em tão auspiciosa hora lhe acudira aquela inspiração, que, em pouco tempo, lhe restituía a quinta o capital empregado, regalando- o todos os anos com não calculados juros, e ele, sem intermitências, cresceu daí por diante em prosperidades a ponto de deixar, ao morrer, a família no número das mais abastadas naquela terra.
A propriedade do Mosteiro, apesar de vários melhoramentos e reformas efectuados nela, oferecia, ainda claros, muitos vestígios de seus primitivos usos. Não era raro encontrar-se, aqui e ali, em pé uma cruz de pedra marcando antigos lugares de devoção; no alto de algumas portas conservava-se visível o emblema e divisa da Ordem, ou restos de inscrições latinas; nas paredes da arcaria, em que se apoiava a face posterior do edifício, mantinha-se ainda um azulejo contemporâneo dos frades; finalmente resistira a sucessivas reformações certo colorido monástico, que só após muitos anos se dissiparia de todo.
Entrava-se para a propriedade por uma larga, comprida e majestosa álea de sobreiros seculares, alcatifada de relva, que, sobretudo dos lados, por pouco trilhada, crescia espessa e verdejante.