XXPassados dias voltava Herodes do Porto, quando nas proximidades da aldeia encontrou alguns homens a cavalo, que lhe eram desconhecidos.
O leitor que tenha sempre vivido numa cidade populosa, onde lhe é impossível conhecer todos os que com ele habitam na mesma terra, mal pode fazer ideia da sensação que produz no habitante de uma aldeia, vila ou cidade pequena, a presença de uma cara estranha.
Formam-se-lhe logo no espírito mil conjecturas, e a mais inquieta curiosidade instiga-o a decifrar a significação daquele aparecimento.
Isto aconteceu com o Cancela.
Desde que avistou os desconhecidos, que dissemos, não tirou mais os olhos deles. Eram três em número, traziam grandes botas, e largos chapéus, mantas ao ombro, usavam bigode e lunetas escuras.
- Pássaros de arribação... - pensava o Herodes consigo. - Que vento traria isto para aqui? E, chegando-se mais de perto, saudou-os cortesmente.
Um deles dirigiu-lhe a palavra:
- Ola, ó amigo; onde há por aqui uma casa habitável, em que nos alojemos?
- Por pouco ou por muito tempo, meu amo?
- Por o tempo que leva a construir uns quinze quilómetros de estrada.
- Ah! Então V. S.ªs são engenheiros?
- Julgo que sim.
- Então, visto isso, as estradas sempre vão principiar? Antes de arranjarmos casa em que fiquemos, decerto que não.
- Ai, sim, querem uma casa... Eu lhes digo, não tem nada que saber; os meus amos vão por aí sempre a direito, e, lá adiante, chegando ao pé de uma oliveira, tomam à sua mão esquerda por um caminho estreito, que tem uma cancela no fim; depois, logo que virem uma nora, carregam à direita, seguem sempre ao lado de um muro branco, até chegarem à eira; aí tomam por outro atalho, que está ao lado e vão dar a um larguinho... Depois não tem que saber, deitam pela rua em frente e, perguntando ali pela estalagem da Mouca, logo lhe dizem.