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Capítulo 16: XVI

Página 250
Eu já não fico por mim esta noite. Estou a querer convencer- me de que tenho andado estouvadamente e com não demasiado cavalheirismo. Que diabo! É que esta mulher e este criancelho são irritantes. Ela com a sua altivez, ele com os seus brios. Mas, na verdade, será este o Endimião desta esquiva Diana? Caprichos feminis... É o tal primo ingénuo e tímido... A ociosidade da aldeia para alguma coisa há-de dar. Mas da maneira por que ela lhe falou... Havia certo tom de sinceridade... Astúcias... O que é certo é que estou em luta com uma mulher superior... Pois lutemos, priminha, mas com armas leais. Não me prevalecerei do segredo que o acaso me revelou, se segredo existe... Veremos como ela amanhã me trata... Esta cena deixou em Augusto uma perturbação de espírito mais profunda.

As operações mentais que o preocuparam toda a noite eram daquelas a que repugna chamar pensar. É mais uma febre intelectual, um suceder de imagens sem ordem nem filiação, que não conduz a nenhum resultado, que não aconselha nenhum partido, que não esclarece; ofusca.

Como se explica esta diferença entre os dois? Por um aparente paradoxo: porque Augusto tinha mais hábitos de reflectir. Quando, numa vida de episódios uniformes e aparentemente vulgares, o espírito exerce demasiado a análise, habitua-se a estudar factos que para outros passam por insignificantes, e descobre-lhes faces novas e desconhecidas. Costumado assim a ligar valor a tudo, quando sucede que no decurso da vida se lhe depara um facto de maior vulto, a confusão do primeiro momento é inevitável. Assim como a balança de precisão, apropriada para oscilar com pesos tenuíssimos, não é a que pode servir para os grandes pesos, também a inteligência, costumada a pesar subtis acidentes, de que se compõe o drama habitual da vida, não é a que de súbito pode avaliar algum mais complexo e importante.

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pág. 250 (Capítulo 16)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 250

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506