A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 4: IV Pág. 53 / 508

Em pé, à cabeceira, presidia ao lunch infantil uma mulher, de quem Henrique só pôde notar vagamente os contornos gerais do corpo e não as particularidades das feições, porque, ficando voltada de costas à luz das janelas, velavam-lhe o rosto umas meias sombras, que não favoreciam o exame.

Ao ver entrar Henrique, ela disse-lhe jovialmente:

- Na aldeia a sala de recepções é aquela em que a gente se acha, quando lhe anunciam uma visita. É assim, pelo menos, que eu compreendo o viver do campo.

- E é assim que eu o aprecio, minha senhora - respondeu Henrique, aproximando-se da mesa.

As crianças, interrompendo a refeição, fitavam o recém-chegado com aqueles olhos espantados e penetrantes, com que elas, prontamente, e quase sempre com a certeza de um verdadeiro instinto, decidem para si das simpatias ou antipatias de que lhes é merecedor um estranho, a quem vêem pela primeira vez.

A mulher que presidia ao banquete não suspendeu com a entrada de Henrique a ocupação doméstica na qual estava empenhada.

Mostrava receber-lhe a visita com um perfeito «à-vontade», que nada tinha, porém, de afectado.

- Não sei se V. Ex.ª sabe... - ia dizendo Henrique, quando, ao chegar perto dela, parou subitamente em meio da frase.

Na mulher que estava diante de si reconheceu a leitora da devesa, a interessante rapariga, que tanto o preocupara.

Era ela, era o mesmo vestido de xadrez, era a mesma cabeça, agora melhor apreciada ainda, porque nada havia a encobrir-lhe a fronte, de um primoroso modelo, e os cabelos penteados com tanta graça como singeleza. Em vez do longo xaile de casimira, trazia agora uma espécie de jaqueta, curta e larga, apertada por alamares, de forma pouco mais ou menos semelhante à que, na nomenclatura das modistas,





Os capítulos deste livro