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Capítulo 4: IV

Página 55
Coitadas! Que havia eu de fazer? Diga-me: já pensou no suplício que deve ser olhar a gente para uma folha de papel escrita, na qual sabemos que se fala de uma pessoa querida, e não ter poder para decifrar aquele enigma? Que martírio! Eu, por mim, confesso que me falta o ânimo para recusar pedidos daqueles, como me faltaria para negar uma gota de água ao desgraçado que visse a morrer de sede. A crueldade seria quase igual. Não lhe parece? Henrique formulou um galanteio, que ela porém não ouviu, entretida já a escutar o que uma das crianças lhe dizia.

- Lena, olha a Anica, que está a deitar a sopa dela no meu prato.

- Deixa falar, Lena, deixa falar; foi ela que primeiro a deitou no meu. Não tem vergonha de mentir!

- Então! - disse Madalena, que a este nome correspondia a contracção familiar de que se serviam as crianças. - Olhem agora se têm juízo! Vejam se querem que eu vá dizer à mamã que venha para aqui.

- Não é ela a mãe, visto isso - pensou Henrique, como quem modificava uma opinião que concebera antes e folgava com a modificação.

- Será irmã? Talvez... Ou mestra... É mais provável que seja mestra. Esta mulher foi decerto educada na cidade. Tem uns ares distintos... E, elevando a voz:

- V. Ex.ª está-me recordando uma cena de um precioso livro, que nunca me canso de ler.

- Qual é?

- Werther.

- Ah!

- Conhece?

- Conheço... quero dizer, li-o, por acaso, há pouco tempo. Compara- me a Carlota? É por estar a distribuir as rações destas crianças? Que mulher há que não seja Carlota, nessa parte? Em todas as casas se passa uma cena assim. Bem se vê que não tem família.

- Porquê?

- Por lhe fazer tanta sensação o espectáculo desta.

- É certo - respondeu Henrique com melancolia. - Deve ser essa uma das causas; mas não a única - acrescentou galanteadoramente.

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 55

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506