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Capítulo 6: VI

Página 87

O conselheiro era um homem muito do século. O seu trato social, a frequência dos círculos políticos e elegantes, haviam-lhe dado todas as boas e más qualidades, que caracterizam aquela classe de homens, e sabe-se que a candura de sentimentos não entra no número das mais habituais dessas qualidades. Tinha uma razão clara, mas fria; se abraçava uma boa causa, não o fazia cedendo ao entusiasmo, mas somente depois de ponderar fleumaticamente os fundamentos em que ela se baseava; assim era que, em política, se costumara a contemporizar, espaçando a adopção de qualquer medida, inquestionavelmente boa, para tempos em que fosse mais conveniente; não se apaixonava por utopias, desconfiava delas; havia muito tempo que desviara dos olhos o prisma encantado, através do qual olham o mundo os poetas e todos os mais sonhadores; costumara-se a marcar por modelo, nas diferentes carreiras da vida, não um tipo ideal, dotado de todas as virtudes, limpo de todos os defeitos e vícios; assentara a menor altura o alvo; parecia-lhe que bom fito eram já os indivíduos que tinham conseguido maior consideração na sua classe: as máculas que eles tivessem, eram, por esse facto, máculas autorizadas. O pensar de outro modo era pensar de romance; agradável para entreter, porém mau nas aplicações às coisas da vida. Numa palavra, o conselheiro era um homem de bem, mas na esfera mundana; não um daqueles tipos de pureza cristalina, através da qual parece passarem sem desvio os raios da luz celeste, mas já um tanto embaciado do bafo social, que não o fazia ainda totalmente opaco.

Por isso sorriu à declaração de Augusto. A carreira eclesiástica não lhe parecia tão escabrosa como o futuro sacerdote a fazia; nem tão dura a lei como em teoria se mostrava. O conselheiro não pensava necessário tomar ao pé da letra certos deveres impostos; o mundo seria, como ele, tolerante em naturais infracções; por tudo isso se riu.

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 87

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506