Uma Família Inglesa - Cap. 9: IX - No escritório Pág. 99 / 432

– Fumem – insistiu Carlos.

Manuel Quintino levantou os olhos e fixou-os nos dois rapazes.Sob a influência daquele olhar, hesitaram ainda.

Carlos obrigou-os porém a aceitar, ofereceu-lhes lume para acenderem e, enquanto o faziam, voltou-se para Manuel Quintino e, vendo a cara de contrariado com que ficava, aproximou-se dele:

– Que tem você, Manuel Quintino? Deixe fumar os rapazes. Não seja fóssil.

– Se o pai vier por aí, cuida que há-de gostar de… E demais a mais, é distraí-los do serviço…

– Que serviço? Olhem o grande serviço que eles faziam! – Rapaz – acrescentou logo depois, dirigindo-se ao perseguidor das moscas da janela –, vai à Rua de Santo António saber se aquele meu casaco está pronto… e chega de caminho ao teatro de S. João, pergunta pelo bilheteiro e diz-lhe que vais do meu mando tomar seis cadeiras para a récita de quinta-feira… entendes? Seis cadeiras; depois…

– E faz favor de me dizer quando é que ele há-de levar a correspondência ao correio? – perguntou com mau humor Manuel Quintino.

– Eu sei lá disso. Anda, vai…

– Mas…

– Ora! mande ao correio quem quiser… Avia-te. Salta.

O rapaz saiu a correr.

Manuel Quintino encolheu os ombros.

Carlos dirigiu-se à janela, que abriu de par em par. Uma rajada de vento, entrando na sala, fez esvoaçar toda a papelada da banca de Manuel Quintino.

– Lá vai! lá vai! lá vai tudo com os diabos! – exclamou o guarda-livros. – Adeus, minha vida; estou arranjado!

Carlos desatou a rir.

– Isso; ria-se que tem muita graça! Então os senhores que fazem? – perguntou, descarregando as iras sobre os caixeiros. – Ponham-se à palestra e a fumar e eu que trabalhe; hem?

– Deixe estar que eu apanho isso – disse Carlos, continuando a rir.

E todos quatro principiaram a apanhar os papéis, dispersos por a sala.





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