Em Jenny, a paixão de amante, a ter de lhe inquietar o coração, dificilmente se revelaria, a não ser adivinhada; mas depois, se o fosse, ou havia de consagrar-se na de esposa, de sublimar-se na de mãe, ou lentamente a consumiria; ser-lhe-ia fatal, se, por não compreendida, não chegasse a realizar essa santificada evolução.
Almas assim estão talhadas, ou para a felicidade celeste, ou para a máxima tortura; que eu não sei de outra maior do que a daqueles que concentram em si o sofrimento e sufocam todas as manifestações de dor, quando às vezes a revelação lhes poderá dar lenitivo.
Mas o céu de Jenny era ainda límpido, e amena a corrente da vida.
Um rápido e imperceptível movimento de lábios, um desvanecido contrair de fronte e – a não ser ilusão isto – um como escurecer do puro azul daqueles olhos amoráveis eram os únicos vestígios das raras lutas travadas entre a sua razão poderosa, bem que de mulher, e os impulsos de diversos afectos, luta sempre decidida pela vitória da primeira.
Mas eram raras essas nuvens, tão raras como diáfanas, tão diáfanas como passageiras.
Estava-lhe quase sempre no seio aquela mesma placidez que se lhe lia no semblante.
E nem por isso se julgue frio e insensível o carácter dela; animavam-no também os raios vivificadores dos sentimentos que nos prendem à terra; mas, com o influxo da vida, não transmitiam esses raios a labareda que destrói.
Será menos enérgico e abençoado o calor do Sol, porque não inflama os bosques e as cidades, como o incêndio que a mão do homem ateia? Mas um cobre de verdura os prados e de flores os ramos, e alumia o hemisfério inteiro; o outro calcina as plantas que abraça, e a pouca distância estende a sua claridade fatal; qual será mais poderoso e efectivo?
Em Jenny os afectos do coração pareciam-se com as chamas dos lampadários sagrados, que, em honra de Deus, iluminam o interior dos templos.