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Capítulo 2: II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo

Página 13

Em Jenny, a paixão de amante, a ter de lhe inquietar o coração, dificilmente se revelaria, a não ser adivinhada; mas depois, se o fosse, ou havia de consagrar-se na de esposa, de sublimar-se na de mãe, ou lentamente a consumiria; ser-lhe-ia fatal, se, por não compreendida, não chegasse a realizar essa santificada evolução.

Almas assim estão talhadas, ou para a felicidade celeste, ou para a máxima tortura; que eu não sei de outra maior do que a daqueles que concentram em si o sofrimento e sufocam todas as manifestações de dor, quando às vezes a revelação lhes poderá dar lenitivo.

Mas o céu de Jenny era ainda límpido, e amena a corrente da vida.

Um rápido e imperceptível movimento de lábios, um desvanecido contrair de fronte e – a não ser ilusão isto – um como escurecer do puro azul daqueles olhos amoráveis eram os únicos vestígios das raras lutas travadas entre a sua razão poderosa, bem que de mulher, e os impulsos de diversos afectos, luta sempre decidida pela vitória da primeira.

Mas eram raras essas nuvens, tão raras como diáfanas, tão diáfanas como passageiras.

Estava-lhe quase sempre no seio aquela mesma placidez que se lhe lia no semblante.

E nem por isso se julgue frio e insensível o carácter dela; animavam-no também os raios vivificadores dos sentimentos que nos prendem à terra; mas, com o influxo da vida, não transmitiam esses raios a labareda que destrói.

Será menos enérgico e abençoado o calor do Sol, porque não inflama os bosques e as cidades, como o incêndio que a mão do homem ateia? Mas um cobre de verdura os prados e de flores os ramos, e alumia o hemisfério inteiro; o outro calcina as plantas que abraça, e a pouca distância estende a sua claridade fatal; qual será mais poderoso e efectivo?

Em Jenny os afectos do coração pareciam-se com as chamas dos lampadários sagrados, que, em honra de Deus, iluminam o interior dos templos.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 13

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432