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Capítulo 11: XI – Cecília

Página 120

Falta-nos certo uso de sociedade, que ensina cada qual a ocupar o seu lugar. Quando não encarecemos exageradamente as coisas pátrias, à maneira daquele sujeito que vimos num dos grupos da Praça, caímos no excesso oposto e nem sequer falamos delas, como se nos corressem da origem.

Bem que pese à vaidade nacional, é forçoso, o fazer aqui em família, uma confissão: – Nós temos o defeito daqueles provincianos que, nos círculos da capital, sufocam envergonhados, como coisa de mau gosto, uns restos de amor da terra, que ainda os punge, e deitam-se a exaltar, com afectação altamente cómica, os prazeres e comoções da vida das grandes cidades, que ainda mal gozaram e ainda mal saborearam; – falam dos teatros, dos bailes, da cantora da moda, do escândalo do dia, sem se atreverem a dizer uma palavra pelo menos das árvores, das paisagens, das tradições, dos costumes locais, do conchego doméstico da sua província, o que porventura os outros lhe escutariam com mais vontade; e no fim de tudo ficam mais ridiculamente provincianos, do que nunca.

Assim também os portugueses, acanhados nos círculos da Europa, não ousam conferir diplomas de excelência a coisa que lhes pertença; envergonham-se de falar nas riquezas pátrias, enquanto abrem a boca, por convenção, a tanta insignificância que, em todos os géneros, a vaidade estrangeira apregoa como primores; levam o excesso da modéstia, se é só modéstia isso, até recearem que as vistas dos estranhos averigúem do que lhes vai por casa, e agradecem, com efusões de sensibilidade, uma ou outra frase de louvor que, em momentos raros, eles lhes concedem.

Se ousamos falar de Camões, ao mesmo tempo que de Tasso, de Dante e de Milton; se ousamos apregoar o vinho do Porto, junto com o de Xerez, Château-Laffite

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pág. 120 (Capítulo 11)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 120

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432