Falta-nos certo uso de sociedade, que ensina cada qual a ocupar o seu lugar. Quando não encarecemos exageradamente as coisas pátrias, à maneira daquele sujeito que vimos num dos grupos da Praça, caímos no excesso oposto e nem sequer falamos delas, como se nos corressem da origem.
Bem que pese à vaidade nacional, é forçoso, o fazer aqui em família, uma confissão: – Nós temos o defeito daqueles provincianos que, nos círculos da capital, sufocam envergonhados, como coisa de mau gosto, uns restos de amor da terra, que ainda os punge, e deitam-se a exaltar, com afectação altamente cómica, os prazeres e comoções da vida das grandes cidades, que ainda mal gozaram e ainda mal saborearam; – falam dos teatros, dos bailes, da cantora da moda, do escândalo do dia, sem se atreverem a dizer uma palavra pelo menos das árvores, das paisagens, das tradições, dos costumes locais, do conchego doméstico da sua província, o que porventura os outros lhe escutariam com mais vontade; e no fim de tudo ficam mais ridiculamente provincianos, do que nunca.
Assim também os portugueses, acanhados nos círculos da Europa, não ousam conferir diplomas de excelência a coisa que lhes pertença; envergonham-se de falar nas riquezas pátrias, enquanto abrem a boca, por convenção, a tanta insignificância que, em todos os géneros, a vaidade estrangeira apregoa como primores; levam o excesso da modéstia, se é só modéstia isso, até recearem que as vistas dos estranhos averigúem do que lhes vai por casa, e agradecem, com efusões de sensibilidade, uma ou outra frase de louvor que, em momentos raros, eles lhes concedem.
Se ousamos falar de Camões, ao mesmo tempo que de Tasso, de Dante e de Milton; se ousamos apregoar o vinho do Porto, junto com o de Xerez, Château-Laffite