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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 140
Pelas suas mãos, de bem pequenas afeitas ao trato doméstico, tão escrupulosamente regulados andavam os capitais, que não só satisfaziam ao necessário, mas derivavam-se ainda para o que se pode já dizer supérfluo.

Escusado é quase acrescentar que Cecília era o ídolo de Manuel Quintino. Nela se concentravam todas as afeições do velho. Tinha apenas seis anos a filha, quando lha deixara confiada a esposa, que ele chorava ainda; enquanto cercava a inocente de constante vigilância e de cuidados assíduos que, por inspiração do coração, soubera amenizar de carinhos e de meiguices verdadeiramente maternais, robusteceu-se-lhe aquele amor a ponto de referir daí por diante a ele todos os outros sentimentos que o moviam.

Nunca lhe pareceu demasiada qualquer despesa feita com Cecília.

Empenhou-se em dar-lhe uma educação esmerada e conseguiu-o.

Exultava de prazer, vendo crescer, em vida, em inteligência, em bondade, aquela bonita criança, junto de cujo berço velara noites e noites, cismando no futuro dela.

Pouco a pouco, deixara-se possuir de um respeito, de uma veneração pela filha, que tinha seus vislumbres de idolatria.

A primeira madeixa loira cortada aos cabelos de Cecília, ainda menina, trazia-a o velho sempre consigo, como talismã milagroso; o menor bilhete, dos que ela lhe escrevia para o escritório, a respeito de qualquer negócio doméstico, arquivava-o, como relíquia, que seria profanação deixar perder.

Tinha puerilidades Manuel Quintino! – puerilidades que só farão rir aos poucos que as não tenham tido iguais. Movia-o, quase até às lágrimas, qualquer frase afectuosa daquelas insignificantes correspondências.

Como ele era feliz lendo, no alto do bilhete, por exemplo: «Meu bom pai» ou «Meu querido pai», e no fim dele – «sua extremosa filha» ou «sua filha obediente».

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pág. 140 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 140

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432