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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 141

Por irresistível impulso aproximava dos lábios aquelas palavras e beijava-as com fervor.

Quando, no meio do trabalho quotidiano, que ele, como vimos, executava com uma fleuma e regularidade que deviam fazer supô-lo homem pouco sujeito a expansões, a ideia de Cecília lhe passava pelo espírito, tinha movimentos de criança.

Pousava a pena, interrompia a conta, correspondência, ou o que quer que fosse em que estivesse ocupado, para esfregar as mãos de contente, como o rapaz de escola ao acudir-lhe de súbito a lembrança de um feriado próximo.

Às vezes não resistia a dar dois passeios no escritório, trauteando, e a vir à janela, com a pena na orelha, a espreitar, por entre os vidros, a altura do Sol.

Ao voltar a casa, Manuel Quintino não se distraía pelas ruas; procurava as travessas e atalhos mais solitários, para evitar importunos; tardava-lhe a conversa da filha.

Quando na presença dele se falava em alguma epidemia que principiasse a ameaçar a cidade, já o bom homem não podia dominar um terror intenso; revelava-se-lhe no semblante em caracteres bem evidentes e havia-lhe conquistado a reputação de pusilânime, entre os seus colegas mais novos; já até se divertiam, mal suspeitavam com que crueldade, a despertar frequentes vezes estes receios pânicos.

A ideia do risco pessoal não era porém a que o fazia empalidecer; um só receio, uma só lembrança o torturava então, era a do perigo que podia correr a vida de Cecília.

Não se concebe em que espécie de loucura o lançou uma doença da filha. O serviço do escritório foi pela primeira vez perturbado na sua marcha regular, e a correspondência, em cuja nitidez caprichava Manuel Quintino, não raro lhe saía das mãos toda manchada de lágrimas. No dia em que o médico lhe deu, sorrindo, a certeza de que Cecília estava salva, Manuel Quintino não teve mão em si, que se não atirasse, a rir e a chorar, aos braços dele, chamando-lhe seu benfeitor e beijando-o com paixão.

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pág. 141 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 141

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432