um por um, e com sincera ingenuidade, os pensamentos dominantes do dia, e mais do que uma vez conseguira vencer-se, quase ao ceder à tentação de actos menos generosos, só para não ter de os confessar depois a este afectuoso juiz e merecer-lhe uma amigável repreensão entre sorrisos, ou o mal reprimido movimento de desgosto daqueles bonitos lábios, o que deveras o magoava.
Nem menos o afligiriam os remorsos, se procurasse subtrair-se à pena, não denunciando o delito. A consciência costumava censurar-lhe também estas faltas, nas raras vezes que as cometia.
Jenny, igualmente atendida pelo irmão e pelo pai, servia-se desta duplicada influência para harmonizar toda a família, nos momentos de receada discórdia.
Com uma palavra extinguia qualquer irritação que as extravagâncias de Carlos pudessem ter produzido no ânimo de Mr. Richard; com outra dissipava no irmão as menores tendências à insurreição, tão naturais à idade e temperamento dele, contra alguma medida repressiva, posta, de quando em quando, em prática pelo pai, como em último recurso.
Frequentes vezes o pequeno erário de Jenny abrira-se a solver dívidas, imprudentemente contraídas por Carlos, e a remediar todas as más consequências das suas leviandades. Estava sempre pronta a advogar-lhe os pleitos, a minorar-lhe as culpas.
Mas também o que ela não conseguisse de Carlos, ninguém mais na terra o conseguiria.
Deixar adivinhar desejos, era formular pedidos; uma súplica, timidamente expressa, valia por uma ordem imperiosa. E contudo Jenny nunca procurava tornar aparente este predomínio; antes se esforçava por o dissimular.
Conhecendo, mais por muito reflectir do que por experiência, que não a tinha, os mil mistérios e caprichos do coração humano, toda a sua admirável diplomacia feminina estava em saber fazer-se obedecida, brincando; em aceitar e agradecer, como concessões espontâneas, o que lhe dizia a consciência ser o resultado de suas insinuações e pedidos.