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Capítulo 2: II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo

Página 18
um por um, e com sincera ingenuidade, os pensamentos dominantes do dia, e mais do que uma vez conseguira vencer-se, quase ao ceder à tentação de actos menos generosos, só para não ter de os confessar depois a este afectuoso juiz e merecer-lhe uma amigável repreensão entre sorrisos, ou o mal reprimido movimento de desgosto daqueles bonitos lábios, o que deveras o magoava.

Nem menos o afligiriam os remorsos, se procurasse subtrair-se à pena, não denunciando o delito. A consciência costumava censurar-lhe também estas faltas, nas raras vezes que as cometia.

Jenny, igualmente atendida pelo irmão e pelo pai, servia-se desta duplicada influência para harmonizar toda a família, nos momentos de receada discórdia.

Com uma palavra extinguia qualquer irritação que as extravagâncias de Carlos pudessem ter produzido no ânimo de Mr. Richard; com outra dissipava no irmão as menores tendências à insurreição, tão naturais à idade e temperamento dele, contra alguma medida repressiva, posta, de quando em quando, em prática pelo pai, como em último recurso.

Frequentes vezes o pequeno erário de Jenny abrira-se a solver dívidas, imprudentemente contraídas por Carlos, e a remediar todas as más consequências das suas leviandades. Estava sempre pronta a advogar-lhe os pleitos, a minorar-lhe as culpas.

Mas também o que ela não conseguisse de Carlos, ninguém mais na terra o conseguiria.

Deixar adivinhar desejos, era formular pedidos; uma súplica, timidamente expressa, valia por uma ordem imperiosa. E contudo Jenny nunca procurava tornar aparente este predomínio; antes se esforçava por o dissimular.

Conhecendo, mais por muito reflectir do que por experiência, que não a tinha, os mil mistérios e caprichos do coração humano, toda a sua admirável diplomacia feminina estava em saber fazer-se obedecida, brincando; em aceitar e agradecer, como concessões espontâneas, o que lhe dizia a consciência ser o resultado de suas insinuações e pedidos.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 18

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432