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Capítulo 2: II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo

Página 17
Lacónico, nestas coisas, por sistema e por espírito nacional, nunca usava de parábolas para chamar ao aprisco a ovelha tresmalhada.

Um único «Ho!», mas pronunciado com aquela expressão que só a laringe britânica lhe sabe dar, um ho aspirado, gutural, eloquente, inglês enfim, combinado a um abanar de cabeça rápido e desaprovador e a dois ou três particulares estalidos de língua, eram os sinais de impaciência e de desagrado que Mr. Richard manifestava, e dos quais mais se temia Carlos, do que se temeria de qualquer menos concisa fórmula, sob que pudesse revelar-se a censura paternal.

Dia em que aquele fatal «ho!» lhe tivesse soado aos ouvidos, já não se confiava despreocupado a inteiro prazer; passava-lhe uma nuvem no firmamento azul da juventude, límpido como o de poucas.

Prometia então emendar-se; solenemente a si próprio o prometia, mas cedo a promessa era esquecida, até que nova e semelhante ocasião se renovava.

Outro era o sentir de Carlos para com a irmã.

Jenny era o seu anjo bom, e o anjo bom da família toda, a meiga, a benigna fada cujo olhar serenava as tempestades, e desanuviava o Sol.

Com sorrisos decidia, para o bem, os combates de paixões. Débil e delicada era aquela mão, mas quantas vezes Carlos a encontrara interposta entre si e o precipício, para lhe servir de amparo! Delgado e vacilante imaginar-se-ia aquele braço, mas firme o sentia ela sempre ao ter de sustentar o irmão na queda iminente, ou de elevá-lo até si. Branda e suave lhe saía dos lábios a voz, mas só ela se fazia escutar dos ouvidos, quando o tumulto das paixões os ensurdecia.

Não havia segredos entre os dois. De pequeno se acostumara Carlos a vir contar a Jenny quase todas as acções da sua vida, boas ou más que elas fossem.

Referia-lhe,

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 17

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432